O desempenho avassalador de Tigist Assefa em Berlim, no domingo, surpreendeu o mundo e carimbou um novo recorde mundial na maratona feminina. Sem retirar “o pé do acelerador” durante os 42,2 quilómetros da prova, a atleta etíope de 26 anos bateu em mais de dois minutos ao antigo recorde, correndo a uma média de 3m07s por quilómetro. Deixou a competição a léguas, ultrapassou vários corredores de elite da prova masculina e, depois de cruzar a meta, Assefa descalçou-se e apontou para uma das grandes aliadas no excelente resultado: a nova "super sapatilha" da Adidas, as Adizero Adios Pro Evo 1s. Um gesto que será seguramente muito lucrativo quer a nível reputacional quer das vendas para a marca.
Quando falamos de calçado de corrida de alto desempenho — as chamadas “super sapatilhas” —, a factura não costuma ser pequena. No caso das Adizero Adios Pro Evo 1s, o preço fixa-se nos 500 euros para os mercados europeus. É ainda importante salientar que, para atingir o melhor desempenho, recomenda-se que o par seja apenas utilizado uma vez em competição. Por muita inovação que uma sapatilha prometa nas campanhas publicitárias, muitos corredores esperam pelos resultados dos atletas de elite que as trazem nos pés antes de se comprometerem com uma compra. O recorde mundial conseguido em Berlim teve o condão de reacender a guerra de sapatilhas de corrida com a Nike e levou a um frenesim na procura por esta nova sapatilha – que já se encontra esgotada no site da marca.
Como escreveu Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO desta terça-feira, as sapatilhas não correm sozinhas, mas é inegável que ajudaram neste novo recorde, factor reconhecido pela própria Tigist Assefa. O que traz, então, este modelo de tão inovador?
No mundo da alta competição todos os gramas contam e, neste ponto, a Adidas foi onde nunca tinha ido: o peso das sapatilhas foi reduzido até aos 138 gramas, uma descida de 40% face ao segundo modelo mais premium da marca, as Adizero Adios Pro 3, contando também com as solas mais finas e leves de sempre. O retorno de energia foi também melhorado, reduzindo o desgaste nas provas mais longas.
Outra das promessas da Adidas passa por uma tracção semelhante às dos restantes modelos de gama alta da marca: factor importante para manter a confiança do corredor a altas velocidades, no caso de atravessar pisos molhados ou escorregadios. O processo criativo desta nova sapatilha teve em conta dados recolhidos juntos dos atletas de maior renome patrocinados pela marca, numa lista que, além da já mencionada Tigist Assefa, inclui também o vencedor da maratona de Boston (2021) e Chicago (2022), o queniano Benson Kipruto.
"As sapatilhas ajudam, não há que enganar"
Depois de analisadas as especificações, chegou a altura de ouvirmos os profissionais. Luís Saraiva, atleta do Sp. Braga que, entre outros recordes, venceu a Meia Maratona do Porto na edição de 2021, salienta a ligação formada entre atleta e calçado no dia de prova. "A sapatilha é sempre um acessório fundamental para os atletas", reitera o atleta ao PÚBLICO.
O bracarense faz questão de destacar a grande evolução deste tipo de calçado nos últimos cinco anos: as "super sapatilhas" conseguem cada vez mais aliar a rapidez ao conforto, reduzindo o desgaste e facilitando a recuperação.
Especificamente sobre este modelo da Adidas, Luís Saraiva não mascara a estupefacção com a leveza da sapatilha, classificando as Adizero Adios Pro Evo 1s de "peso pluma" entre os modelos tecnologicamente mais avançados. "É uma redução incrível", resume em poucas palavras.
Olhando depois para o preço e utilização, destaca alguns factores: "É uma sapatilha que tem um desgaste brutal. É só mesmo para ser usada uma vez em competição... Claro que se consegue usá-la fora disso, mas as vantagens que a sapatilha dá acabam por se perder depois na competição. Há ainda 'a contrariedade' do preço: são 500 euros, um valor altíssimo. Mas nisto faço a comparação com a Fórmula 1: os pneus também não duram uma temporada inteira, mas dão um retorno muito elevado."
Se calçarmos estas sapatilhas transformamo-nos em atletas de elite? Se estava perto de o ser antes, pode ficar mais perto desse objectivo. Mas para quem está só agora a chegar à corrida, Luís Saraiva desfaz as ilusões. Sem treino nada se faz e as sapatilhas não correm sozinhas.
"O principal é sempre o treino específico. Há pormenores que com uma sapatilha topo de gama se conseguem cumprir. Mas, se não treinar, se não fizer por si, as sapatilhas não o vão fazer sozinha. Ajudam? Claro que ajudam, não há que enganar, mas tem de existir trabalho por detrás desse mesmo registo", conclui.