Centenas de profissionais da educação em protesto pedem “demissão” do ministro

É a primeira manifestação deste ano lectivo. Centenas de docentes e não docentes juntaram-se na presidência do Conselho de Ministros e dirigem-se para o Parlamento.

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LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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Iam chegando a conta-gotas, já munidos de T-shirts, faixas, apitos e outros adereços alusivos às reivindicações dos profissionais da educação. A primeira manifestação deste ano lectivo, que encerrou uma semana de greve nas escolas convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop), juntou na tarde desta sexta-feira algumas centenas de docentes e não docentes, num protesto que foi da presidência do Conselho de Ministros à Assembleia da República.

Voltaram a ouvir-se os tambores, os gritos, apitos e buzinas que, ao longo de meses, se escutaram por diversas vezes. "Demissão", lia-se em letras garrafais numa faixa construída por balões. André Pestana, líder do sindicato, ocupava a dianteira do protesto, punho erguido ou entre bateres de palmas, e cumprimentava e abraçava quem se ia juntando à manifestação.

"Está na hora de o ministro ir embora", "não paramos" foram algumas das palavras de ordem que os manifestantes gritaram durante o percurso de cerca de quilómetro e meio, num protesto convocado em defesa da escola pública e por melhores condições de trabalho. O primeiro-ministro não escapou à revolta dos manifestantes e à chegada à sua residência oficial, com os profissionais da educação abaixados e de punho no ar, escutou-se a voz de Zeca Afonso em Grândola, Vila Morena.

Aos jornalistas, André Pestana lembrou que os profissionais da educação continuam "na luta por melhores condições dentro das escolas", frisando que "roubados, desconsiderados e desmotivados, por muito esforço", que façam, não podem dar o melhor às crianças.

"A demissão é inevitável"

Depois de um ano lectivo muito marcado por greves e protestos, os professores e não docentes prometeram dar continuidade à contestação até que o Ministério da Educação aceite as reivindicações dos trabalhadores, sobretudo a recuperação do tempo de serviço congelado (seis anos, seis meses e 23 dias).

Chegados ao Parlamento, cerca das 16h, os profissionais alinharam-se com as faixas que carregaram desde o início do protesto e Pestana defendeu que "este ministro [João Costa] cada vez mais está sem condições para continuar". "A demissão é inevitável, apesar de o essencial serem as políticas, isso é que é preciso mudar", pediu, entre aplausos e gritos de concordância.

Antes disso, ainda a meio do caminho, Luísa Brandão, professora do 1.º ciclo com 55 anos de idade, distribuía panfletos à população alusivos às razões pelas quais docentes e não docentes estão descontentes: "Falta muita coisa na escola, é falso que os professores estejam a reivindicar só problemas de carreira. Estamos na rua todos os dias porque a falta de apoios aos nossos alunos é gritante. A minha turma tem 23 alunos, recebeu um aluno migrante agora, que não fala português, e os apoios são os mesmos: sou eu que me tenho de desdobrar. Isto não pode ser". "Existe esta capa da inclusão e da abertura aos alunos migrantes, mas eles não têm condições para frequentar a nossa escola, que não dá resposta."

À manifestação juntaram-se também membros da Missão Escola Pública, um movimento independente de professores que tem vindo a dinamizar protestos pelo país (tais como marchas lentas, como sucedeu em Março). Ao PÚBLICO, Cristina Costa, membro do movimento, referiu que se juntaram ao protesto por defenderem "qualquer iniciativa que convoque os professores para a luta".

"Queremos mostrar aos pais e encarregados de educação que a escola pública está em risco. Quando o encarregado de educação deixa o seu educando à porta da escola nada garante que, de facto, lhe estejam a ser transmitidos os conteúdos e de igual modo em todas as turmas", alertou.

Greve com "adesão muito reduzida"

A terminar uma semana de greve de docentes e não docentes, também a primeira deste ano lectivo, o impacto terá sido pouco ou nenhum nas escolas, de acordo com as declarações do presidente da Associação Nacional de Directores e Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, ao PÚBLICO nesta sexta-feira. "No início da semana falei em impacto zero, agora posso dizer que, se não foi assim, foi quase, a adesão foi muito reduzida", explica o dirigente escolar.

"Penso que muitos professores não aderiram à greve porque é uma arma para a justa luta que está a ser banalizada. Há um sindicato que devia resolver os seus problemas internos, mas que insiste em fazer greve 'a torto e a direito'", critica Filinto Lima. E lamenta ainda a "desunião" entre sindicatos. "Um deles está com uma guerra interna intensa e os sindicatos, entre eles, estão desunidos num momento em que é necessária uma forte união para representar os professores e neste momento dispensamos egoísmos sindicais", justifica.

A manifestação desta sexta-feira foi convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop), num momento em que o clima de divisão interna é assumido publicamente, com parte da direcção a pedir uma auditoria às contas bancárias.

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