Polónia suspende envio de armas para a Ucrânia no meio da “guerra dos cereais”

Pressionado pela extrema-direita a poucas semanas de eleições, o partido no poder na Polónia justifica a decisão com as consequências para os agricultores polacos do aumento das importação de cereais.

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O primeiro-ministro polaco e o Presidente ucraniano num encontro em Kiev, em Fevereiro de 2023 Reuters/VIACHESLAV RATYNSKYI

A Polónia deixou de fornecer armamento à Ucrânia e vai agora focar-se "no reforço do seu próprio arsenal", anunciou o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki. O anúncio reflecte uma mudança significativa no posicionamento de Varsóvia em relação a Kiev e surge a menos de um mês de eleições legislativas na Polónia.

A Polónia tem sido um dos principais aliados da Ucrânia desde o início da invasão russa, em Fevereiro de 2022, mas as relações entre os dois países pioraram depois de o Governo polaco ter renovado uma proibição da importação de cereais ucranianos.

A suspensão do fornecimento de armas à Ucrânia, anunciada por Morawiecki no canal Polsat News, surge depois das críticas do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, à renovação dessa interdição — uma decisão tomada pela Polónia para proteger os agricultores do país de um súbito aumento de importações, depois de a Ucrânia ter sido impedida de exportar através dos seus portos do Mar Negro devido a um bloqueio da Rússia.

Durante a sua participação na Assembleia Geral das Nações Unidas, esta semana, Zelensky disse que a Ucrânia está a trabalhar no sentido de estabelecer rotas para a exportação de cereais através do continente, mas disse também que "o teatro político" à volta desta questão só está a ajudar a Rússia.

Além da Polónia, também a Eslováquia e a Hungria cortaram nas importações de cereais da Ucrânia, depois de a Comissão Europeia ter decidido não estender uma proibição da venda a cinco Estados, incluindo a Roménia e a Bulgária.

A poucas semanas das eleições legislativas, o partido nacionalista Lei e Justiça, no poder na Polónia, é alvo de fortes críticas da extrema-direita, que o acusa de ter uma atitude subserviente em relação à Ucrânia.

Na quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia apelou à calma nas divergências entre os dois países, com um porta-voz do ministério a pedir aos polacos que "ponham de lado as suas emoções".