BCE não faz pausa: décima subida coloca juros nos 4%

Banco central continua a estar mais preocupado com a inflação do que com a estagnação da economia. Taxas de juro já subiram 4,5 pontos percentuais desde Julho do ano passado.

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Christine Lagarde, presidente do BCE EPA/RONALD WITTEK
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Apesar de a economia europeia estar já em risco de entrada em recessão, os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) decidiram esta quinta-feira ir ainda mais longe na luta contra a inflação e voltaram a subir, pela décima vez consecutiva, as taxas de juro de referência, uma medida que terá reflexos nas prestações de crédito a pagar pelas famílias e empresas portuguesas. O banco, contudo, dá também sinais de que estabilizar o nível dos juros será o plano a partir de agora.

No final da reunião realizada em Frankfurt, os membros do conselho do BCE anunciaram o agravamento, em 0,25 pontos percentuais, das suas taxas de juro. A taxa de juro de depósito, que é actualmente a principal referência para os custos de financiamento na zona euro, passa de 3,75% para 4%.

Desde Julho do ano passado, numa tentativa de conter o crescimento da procura para travar a inflação, o BCE já elevou as taxas de juro em 4,5 pontos percentuais, de -0,5% para 4%, naquela que é a sequência de subida de taxas mais acentuada desde a sua criação, em 1999.

Se é verdade que, depois de atingir um pico de 10,1% em Outubro, a taxa de inflação na zona euro tem estado a descer, continua no entanto distante do objectivo de 2% que o BCE pretende atingir. Em Agosto, a inflação homóloga na zona euro foi de 5,3%.

Para além disso, a taxa de inflação subjacente, que exclui da análise os preços mais voláteis da energia e dos alimentos, ainda não está sequer a recuar rapidamente, algo que leva a que vários membros do BCE se preocupem com a possibilidade de a inflação alta ter vindo mesmo para ficar.

Por outro lado, o endurecimento da política monetária tem também como efeito um abrandamento do ritmo de actividade económica. Desde a segunda metade do ano passado, a economia da zona euro tem estado praticamente estagnada, não se podendo afastar, neste cenário de taxas de juro altas, a possibilidade de se vir a registar em recessão. Para a maior economia da zona euro, a Alemanha, as previsões são já de uma contracção do PIB durante este ano.

Vários economistas, incluindo diversos membros do BCE, têm manifestado o receio de que, com as suas subidas de taxas, o banco central possa já ter ido longe demais, arriscando-se a lançar a economia numa recessão mais forte do que a necessária para trazer a inflação de volta ao seu objectivo.

Sinais de que pode ser a última?

No comunicado emitido após a reunião, os responsáveis do BCE começam por afirmar, como o têm feito em todas as suas decisões: “a inflação continua a diminuir, mas ainda se espera que permaneça demasiado alta por demasiado tempo”.

A preocupação sobre a persistência das pressões inflacionistas encontra, esta quinta-feira, novas justificações na actualização que foi feita às previsões dos técnicos do banco central.

O BCE passou a prever uma inflação de 5,6% este ano e de 3,2% em 2024, revisões em alta face às suas projecções anteriores. Especialmente preocupante para os objectivos da autoridade monetária é o facto de a previsão para 2024 passar de 3% para 3,2%, já que revela que será mais prolongado do que o esperado o regresso da inflação à meta de 2% que é definida para o médio prazo.

Ao mesmo tempo, o BCE teve também de rever, em linha com o que tem sido feito por outras organizações internacionais, as suas previsões para a economia, passando a ser mais pessimista. É agora esperado um crescimento de apenas 0,7% este ano na zona euro, com acelerações modestas para 1% em 2024 e 1,5% em 2025. As razões para esta revisão em baixa das perspectivas de crescimento são justificadas pelo “impacto crescente do aperto na procura interna e do enfraquecimento do ambiente no comércio internacional”.

Entre estes dois problemas – o da inflação alta e o do crescimento muito reduzido – os responsáveis do BCE optaram esta quinta-feira por se voltar a focar no combate à inflação, com mais uma subida de taxas. No entanto, uma frase do comunicado parece querer transmitir a ideia de que o banco central se está a inclinar por ficar por aqui.

“As taxas de juro chave do BCE atingiram níveis que, se mantidos por um período de tempo suficientemente longo, irão dar uma contribuição substancial para o regresso da inflação ao objectivo”, afirma o comunicado. É uma afirmação nova para o BCE e que pode significar que o plano em Frankfurt será agora o de esperar que, com as taxas de juro estabilizadas a 4%, a inflação acabe mesmo por cair para os níveis desejados.

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