“Em 2007 Portugal não podia ter a ambição que agora pode ter”

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Pedro Leal Daniel Rocha
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Em 2007, com 23 anos, foi um dos 30 portugueses convocados por Tomaz Morais para a estreia de Portugal num Campeonato do Mundo de râguebi. Jogou pela selecção portuguesa até 2017 - 75 internacionalizações e 265 pontos marcados -, e foi dos primeiros a emigrar, tendo competido em França com a camisola do CA Brive e do Stade Niçois Rugby, clube de Nice, cidade onde sábado Portugal vai fazer a estreia no Mundial 2023. Em conversa com o PÚBLICO, Pedro Leal afirma que a actual selecção “tem um potencial enorme” e “o espírito certo”.

Em 2007 a estreia de Portugal foi contra a Escócia, agora será frente ao País de Gales. Sendo adversários de qualidade similar, o que podemos esperar do jogo no sábado?
Esta selecção está bem preparada e é melhor do que nós éramos em 2007. Quase 90% dos jogadores que estiveram em França na minha altura eram amadores. Esta tem um potencial enorme. Não podíamos ter as ambições que eles agora podem ter. Queríamos ganhar à Roménia, mas sabíamos que os outros jogos seriam tarefas quase impossíveis. Este jogo contra o País de Gales será interessante… Estou curioso. Temos de entrar bem. Podemos sonhar, mas se conseguirmos competir taco a taco, será bom.

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Havendo essa melhor preparação devido ao profissionalismo, também vê nesta selecção o espírito que havia em 2007?
Existe sempre e vejo isso no meu clube, o G.D. Direito, que tem oito jogadores convocados. São muito unidos, como nós também éramos, embora sejam características diferentes. Representar Portugal num Mundial é um sonho desde criança. Nós fomos os primeiros, eles são os segundos. Pode não haver um espírito tão forte agora, mas basta ver os jogos que fizeram para perceber que têm o espírito certo.

A chegada em 2007 ao estádio em Saint-Étienne, no primeiro jogo - e depois a entrada no relvado - não será esquecida por todos os jogadores…
As pessoas falam-me muito do jogo da Nova Zelândia e do haka, mas, para mim, esse foi o grande momento. As melhores memórias que tenho são desse jogo contra a Escócia. Chegar ao estádio – até aí estávamos isolados em estágio e o Mundial passou-nos ao lado - e ver tantos portugueses à nossa espera… Só quem esteve lá pode perceber o silêncio que se fez dentro daquele autocarro. Foi um sentimento brutal. A entrada em campo e o aquecimento… Foi incrível e marcante depois de todo o esforço que fizemos para lá chegar.

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Foi jogar para França muito jovem, o que não era habitual na altura. Hoje temos muitos jovens que saem de Portugal para competirem nos campeonatos francês. Isso foi fundamental para o salto qualitativo da selecção portuguesa?
Sem dúvida. Tive a hipótese de ir para França aos 17 anos. Ainda era júnior e fui para ser profissional. Estive lá dois anos. Na minha altura o António Aguilar foi o primeiro, depois fui eu e o Gonçalo Uva. Treinava duas vezes por dia e estava num centro de formação. Hoje, irem muitos portugueses para fora, é fundamental para a evolução da selecção. Vão ter melhores condições de trabalho, vão estar no râguebi a full time e uma das mais-valias desta selecção passa por aí. Quantos mais saírem para esses campeonatos mais competitivos, melhor será. O difícil será não melhorarem.

Jogou em Nice, onde sábado Portugal faz a estreia no Mundial contra o País de Gales. Como é que a cidade vive o râguebi e nas bancadas será possível os portugueses rivalizarem com os galeses?
Nas bancadas será taco a taco. Os portugueses, seja onde for, estão lá a apoiar e há muitos espalhados por França, nem que tenham de viajar de Paris. Quanto a Nice, a cidade tem pouca ligação ao râguebi, mas está muito perto de Toulon, que tem uma grande equipa e é de uma região que respira râguebi.

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