Entraste na universidade e vais partilhar casa? Um (breve) guia para boa convivência
Morar com desconhecidos que têm hábitos completamente diferentes dos nossos pode ser um desafio. Mas há formas de melhorar a convivência. A palavra-chave: comunicar.
Entrar na universidade é, muitas vezes, sinónimo de fazer as malas e dizer adeus aos pais. Nova cidade, novo quarto, novos colegas de casa e, com eles, novas rotinas domésticas. A adaptação a tantas mudanças pode ser um desafio (já viste as nossas dicas para manter a saúde mental no regresso à rotina?), mas há algumas estratégias a adoptar para uma melhor convivência.
Para quem vai partilhar casa pela primeira vez, ou para quem precisa de ajuda a gerir alguns desentendimentos do ano passado, a psicóloga Teresa Espassandim deixa algumas dicas. A palavra-chave é simples: comunicar.
Não esperes que façam tudo como queres
Pode ser difícil de aceitar, mas é importante entender que os outros também têm “o seu modo de viver”. Só porque na nossa casa de origem o pano da cozinha costuma estar guardado na gaveta, não quer dizer que na casa dos outros seja assim: há quem prefira pendurá-lo na porta do forno. E os outros também têm “liberdade de poder escolher”.
Por isso, modera as expectativas – e fala sobre elas. “Muitas vezes podemos ter a tentação de pensar que o que é óbvio para nós também é para os outros”, refere a psicóloga. O melhor é tentar “perceber outras formas de funcionar” e “comunicar sobre preferências”. Se não falares, explicares ou fizeres pedidos, ninguém vai adivinhar.
As regras não têm de estar escritas na pedra
Pode parecer tentador e prático: se as regras estiverem escritas, toda a gente as vai cumprir. Mas não é bem assim. “Pode cair-se facilmente na rigidez”, alerta Teresa Espassandim. “É útil falar sobre o que cada um pretende e construir essas regras em conjunto”, mas lembra-te que não estás a viver num quartel militar.
“Se todos as quiserem escrever, tudo bem, mas que não seja pela desconfiança de que não vão ser cumpridas; antes para registar os princípios em que se revêem, para quando surgir necessidade de os exaltar quando algo não estiver bem”, aconselha a psicóloga. Aliás, as regras não precisam de ser estanques: se as circunstâncias mudarem, podem ser definidas novas normas. Mais do que registá-las, é importante que elas “se traduzam em comportamento” — e não há nenhuma lista que garanta isso.
O bom senso deve imperar. Na limpeza…
É de bom-tom deixar a cozinha arrumada para que o próximo a possa utilizar de forma confortável. E ninguém gosta de ter de arrumar as meias sujas que ficaram no chão da sala. Mas é preciso ter “abertura”. Se na minha casa de origem a casa de banho era lavada todos os dias, não quer dizer que seja assim na dos outros ou que eles estejam disponíveis para passar a fazê-lo.
“Não existe um certo ou um errado. Existe o bom senso e como as pessoas se podem articular, sendo que eu não dou ordens aos outros, nem os outros a mim.” Se queres mesmo a casa de banho lavada todos os dias e os outros não estão para aí virados, prepara-te para a possibilidade de teres de ser tu a lavá-la. Mas não o faças à espera que os outros também comecem a fazer.
Aproveita e reflecte sobre os teus hábitos. Tendo sempre em mente que os “padrões de higiene e arrumação podem estar também ao serviço do desempenho académico”.
… ou nas jantaradas
Casa sem pais pode convidar a convívios menos controlados, mas é importante ter em conta que continuas a não viver sozinho. Além do barulho para os vizinhos (acredita, vives melhor se mantiveres boas relações com os vizinhos), os teus colegas de casa podem não querer festa todos os dias.
Se és tu o colega de casa que não quer festa todos os dias, podes conversar abertamente sobre isso. Começa por expor os factos. Algo assim: “Tínhamos combinado que a festa acabava à meia-noite, mas afinal só acabou às duas da manhã, certo? A sala ficou toda toda desarrumada e eu tinha aula online logo de manhã.”
Quando houver “um compromisso em relação aos factos”, avança para a próxima etapa e explica como isso te fez sentir, qual o impacto que teve em ti. Etapa seguinte: "Fazer um pedido, sugerir alternativas e negociá-las."
Tenta abrir as portas — mas respeita se os outros não quiserem
Viver com desconhecidos pode ser estranho. É provável que os outros também estejam a sentir esse desconforto e isso pode levar a que cada um se feche no seu quarto. Para contrariar esta tendência, podes "tomar a iniciativa de propor algumas actividades em conjunto". "Uma das formas para as pessoas se conhecerem melhor é fazendo coisas juntas", salienta Teresa Espassandim.
Podes propor preparar uma refeição em conjunto para se conhecerem um pouco melhor, sugere a psicóloga. Mas atenção: não deves ter a expectativa de que o que propões vai "ser aceite ou passar a ser regra". É importante ter uma coisa em mente: "Os outros têm outra lógica do mundo e outros hábitos. E fazer convergir não é um momento único, mas sim um processo. Há que ter tranquilidade para acreditar que as pessoas se ajustam, mas que isso pode levar tempo."