Vingegaard e Roglic abrem “guerra civil” contra o seu líder na Vuelta

A equipa Jumbo teve ciclistas a atacarem a liderança do seu líder, uma estratégia que terá uma base racional, mas também um lado discutível, sobretudo em matéria de ambiente de grupo. Fez sentido?

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A equipa Jumbo no pelotão da Vuelta EPA/Manuel Bruque
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Nesta terça-feira, na Volta a Espanha, viu-se um dos finais de etapa mais curiosos dos últimos anos no ciclismo mundial, numa tirada ganha por Jonas Vingegaard. A história é fácil de contar, mas de contornos complexos – e passível de várias interpretações.

Sepp Kuss, da Jumbo, era e é o líder da corrida, seguido dos colegas Primoz Roglic e Jonas Vingegaard. Com a vitória na Vuelta praticamente garantida para a equipa neerlandesa, esperava-se que Kuss, que trabalhou para Primoz e Roglic nos últimos anos, fosse protegido pelos seus “amigos” e colegas até à etapa final. Nesta terça-feira, numa subida relativamente curta, esperava-se até que seguissem os três a ritmo, sem ataques – e quem tivesse pernas que os acompanhasse.

De repente, Vingegaard atacou. “Roubou”, primeiro, o segundo lugar de Roglic e começou a colocar em perigo o primeiro, de Kuss. Eis que Roglic atacou também, deixando o camisola vermelha para trás. É certo que a diferença acabou por não ser grande o suficiente para Vingegaard chegar à liderança de Kuss, mas o dinamarquês poderia ter vencido a etapa na mesma atacando mais perto da meta, sem colocar em perigo a liderança do companheiro de equipa.

Esta é a interpretação de quem não aceitará a “guerra civil” numa equipa que apenas precisava de controlar a corrida e proteger o seu líder.

Outra leitura, menos dramática, é suportada por factos. E os factos dizem-nos que Vingegaard, que parece ser o mais forte dos três, ganhou um minuto a toda a gente, podendo ser uma opção mais válida em caso de um azar ou fraqueza de Kuss – no fundo, a Jumbo garantiu ainda mais a vitória na Vuelta, não confiando a 100% na terceira semana de Kuss.

Uma terceira interpretação, mais especulativa, remete-nos para uma possível fraqueza de Kuss, assumida pelo próprio aos colegas, prevendo problemas nos próximos dias de montanha.

E qualquer destas duas leituras baterá certo com a boa disposição de Kuss no final da etapa, aos risos e abraços com os colegas, minutos depois de ter sido atacado pelos próprios companheiros de equipa e de ter chegado mais de um minuto após Vingegaard, com João Almeida logo atrás.

As respostas serão conhecidas possivelmente já nesta quarta-feira, na subida ao Angliru, onde Vingegaard poderá perfeitamente acabar o dia de camisola vermelha. E aí se verá se foi "guerra civil" ou apenas estratégia bem medida de uma equipa que sabe sempre o que faz na estrada.

Seja qual for o racional que justificou a táctica da Jumbo, o certo é que desde cedo pareceu que a equipa tinha o objectivo de vencer esta etapa. É que esta tirada era, em teoria, ideal para uma fuga ter sucesso. Tinha vários quilómetros sem especiais dificuldades e um final bem inclinado, numa escalada curta, mas bastante dura e explosiva.

O problema para quem quis estar na fuga é que a Jumbo tinha um plano diferente. Possivelmente motivada pelo acidente de Nathan van Hooydonck, ciclista da equipa que teve um acidente de automóvel nesta terça-feira, a equipa neerlandesa esteve empenhada em não deixar uma fuga ganhar vantagem.

A ideia de quererem “oferecer” um triunfo a Nathan justifica esta postura, mas fica a “pulga atrás da orelha” sobre o plano de ter Vingegaard, Roglic e Kuss a correrem, aparentemente, uns contra os outros. Para já, rendeu uma vitória.

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