Sismo em Marrocos: “As próximas 24 a 48 horas serão críticas para salvar vidas”

Várias pessoas dormiram nas ruas com receio de regressar às casas, que apresentam danos, nomeadamente fissuras nas paredes. Marrocos declarou três dias de luto nacional.

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Marraquexe Tiago Bernardo Lopes
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Marraquexe Tiago Bernardo

O número de vítimas do sismo que atingiu Marrocos não parou de subir desde sexta-feira à noite, quando a terra tremeu. Os dados divulgados nesta tarde de domingo pela televisão estatal marroquina SNRT apontam para 2122 mortos e 2421 feridos.

Entre as vítimas mortais estão quatro pessoas francesas e uma espanhola. O número de feridos graves não foi actualizado oficialmente, mas ontem eram mais de 1400, de acordo com o Ministério do Interior. Até este domingo, Marrocos autorizou a entrada de equipas de Espanha, Reino Unido, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Segundo Rabat, “o país não tem de momento necessidade de outros tipos de ajuda”.

O maior medo da população é que os edifícios que ficaram de pé possam agora começar a ruir ou que se verifiquem novos abalos. As pessoas têm medo de voltar às suas casas, dada a fragilidade das habitações, e, por isso, têm dormido nas ruas de Marraquexe.

Este foi o caso de Mouhamad Ayat Elhaj. O homem, de 51 anos, decidiu permanecer com a família na rua, depois de ter encontrado algumas fissuras nas paredes da sua casa. "Não posso dormir lá. Peço às autoridades que me ajudem e tragam um especialista para avaliar se é possível voltar para casa ou não. Se houver risco, não voltarei para casa", disse à Reuters.

Também Noureddine Lahbabi, de 68 anos, pernoitou na rua com os quatro filhos, afirmando que a destruição e os danos causas pelo sismo geram angústia. "É uma experiência dolorosa", explica.

As pessoas reuniram-se em espaços abertos junto às estradas. Jowra, de onze anos, comentou com o pai que se sentia desconfortável por ter de estar a partilhar o espaço com vários estranhos.

Este é considerado o sismo mais violento dos últimos 120 anos e o mais mortal dos últimos 60 anos. Os sismos que registaram um maior número de vítimas mortais aconteceram em 2004 (mais de 600 pessoas) e em 1960 (mais de 12 mil pessoas).

Operações de resgaste prosseguem

Na aldeia de Amizmiz, que se situa junto ao local do epicentro, as equipas de resgate continuam à procura de sobreviventes. O cenário de destruição está à vista de todos: ruas estreitas bloqueadas por destroços e cerca de dez corpos cobertos por mantas à porta do hospital. Marrocos declarou três dias de luto nacional e o rei Mohammed VI pediu que se realizassem este domingo orações por aqueles que perderam a vida no sismo.

"Quando senti a terra a tremer sob os meus pés e a casa a inclinar-se, corri para tirar os meus filhos. Mas os meus vizinhos não conseguiram", conta Mohamed Azaw. "Infelizmente não encontraram ninguém vivo naquela família. Pai e filho foram encontrados mortos e ainda procuram a mão e a filha", explica.

Em Asni, que fica a cerca de 40 km a sul de Marraquexe, a situação é semelhante. "Os nossos vizinhos estão sob os escombros e as pessoas estão a trabalhar muito para resgatá-los usando os meios disponíveis na aldeia", disse Montasir Itri. A maioria das casas na região ficaram danificadas e, por isso, também os habitantes decidiram passar a noite na rua. Mohamed Ouhammo disse ainda que a comida se está a tornar escassa, tendo em conta que os tectos caíram, destruindo as cozinhas.

A aldeia de Tansghart, na região de Asni, está de luto pela morte de dez pessoas, incluindo duas adolescentes, segundo um dos moradores. Esta foi uma das regiões mais afectadas pelo sismo. A Reuters relata o caso de Abdellatif Ait Bella, um homem com vários ferimentos na cabeça provocados pelos destroços. "Não temos para onde levá-lo e não comemos desde ontem", disse a sua mulher, Saida Bodchich, que teme pelo futuro da família de seis pessoas.

As equipas de resgate estão a ter algumas dificuldades, sobretudo nas zonas mais remotas e mais acidentadas. Partes de um penhasco caíram e bloquearam a estrada junto à cidade de Moulay Brahim, que permite a ligação entre Marraquexe e as montanhas do Atlas. As forças armadas marroquinas vão começar a enviar equipas de resgate para distribuir água potável, alimentos, cobertores e outros bens pelas áreas mais desfavorecidas.

A Organização Mundial da Saúde afirmou que o sismo afectou mais de 300 mil pessoas em Marraquexe e nos arredores. "As próximas 24 a 48 horas serão críticas para salvar vidas", disse Carolina Holt, directora global de operações da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

Os abalos foram sentidos, com menor intensidade, em Portugal e Espanha.