Mendes quis dar o tiro de partida para as presidenciais, mas Assis não foi atrás
Dois presidenciáveis partilharam palco para falar sobre o “futuro” de Portugal a 150 jovens liberais. De um lado sentiu-se um político; do outro, alguém descomprometido.
Podia ter sido o tiro de partida para as presidenciais de 2026, mas não foi. E não foi porque só um candidato a candidato foi a jogo. Marques Mendes foi ao Campus da Liberdade fazer política, na forma e conteúdo: por um lado, tom bem colocado e discurso trabalhado; por outro, críticas ao primeiro-ministro e identificação dos grandes problemas do país. E o que podia ser um adversário foi apenas um colega de painel: Francisco Assis, relaxado e sem um discurso político meditado, dedicou-se a tecnicismos e conceptualismos. De um lado sentiu-se um político; do outro, alguém descomprometido.
O mote do debate era suspeito: “Portugal, que futuro?” — o mesmo que nos anos 90 os soaristas converterem em plataforma para abanar o Governo de Cavaco Silva, através de organização de congressos com a chancela do então presidente Mário Soares. E se a moldura do debate já era politizada, o antigo líder do PSD, Marques Mendes, fez questão que a pintura também fosse.
O provável candidato presidencial levou ao Campus da Liberdade a mesma palavra que a Iniciativa Liberal levou à sua rentrée no Algarve: “Ambição”. Lá, os liberais diziam que queriam ser o partido dos “portugueses com ambição”; cá, Marques Mendes diagnosticou que um dos maiores “défices do país” é, precisamente, a “falta de ambição”.
Mais tarde na intervenção, apontou que ao primeiro-ministro faltava exactamente isso — “ambição” — e considerou que as medidas por si recentemente apresentadas eram “pequenas” e com “efeito reduzido”. No entender do antigo líder social-democrata, o que falta verdadeiramente ao país é “coragem”. Para quê? “Para agir, decidir e reformar” — algo que, diz, o Governo não fez nos últimos oito anos.
E daí seguiu a crítica no adro, com a maioria absoluta socialista de fundo: “As condições de governabilidade são melhores que em qualquer outro Governo”, introduziu, concluindo: “E onde é que existe o projecto de transformação em Portugal? Na educação? Nas negociações?”.
Cada vez mais galvanizado, subia o tom do discurso. A certa altura interrompeu um banho de palmas para garantir, com gravitas de estadista, que o “problema central” em Portugal era o “crescimento económico” e a “cultura profundamente negativa” de “querermos sempre distribuir mais”.
“Viciados em fundos comunitários”
Na mesma onda alinhou Francisco Assis, que adoptou uma postura muito mais calma do que o seu colega de painel. Contou o presidente do CES que havia visitado a Suécia e concluído que o “socialismo democrático”, para funcionar, “exige prosperidade”. “Quando não há prosperidade partilhamos o quê? Pobreza?”, questionou, arrancando uma ovação da plateia.
Ainda num tom crítico, Assis considerou que a “sociedade em geral” e o “Estado” eram “viciado em fundos comunitários”. Por fim, desdobrou-se em elogios aos jovens presentes no evento, destacando a “liberdade” como “a melhor herança do ocidente” e sublinhando o “sentido cívico” dos 150 jovens que naquela sala se reuniram para reclamar por “mais liberdade”.”.
Na fase das perguntas, Marques Mendes ignorou uma sobre a sua eventual candidatura a Belém e disse ser favorável à entrada da Ucrânia na UE.