Sismo em Marrocos: “Parecia gelatina. É incrível como tudo se mexeu”
“Quando percebemos que a situação era muito grave, levantámo-nos e já não conseguíamos andar em pé”, explica Inês Correia da Silva.
Inês Correia da Silva, de 47 anos, está na parte nova da cidade de Marraquexe, em Marrocos, desde quinta-feira, e diz não ter memória de passar por alguma coisa igual ao sismo que abalou Marrocos nesta sexta-feira. “Quando percebemos que a situação era muito grave, levantámo-nos e já não conseguíamos andar em pé”, explica.
Passavam alguns minutos das 23h00 quando o abalo atingiu Marraquexe e o primeiro impulso de Inês foi agarrar no telemóvel e no passaporte e procurar a saída da casa em que estava hospedada. As pessoas correram para a rua com “colchões, cobertores”, onde ficaram durante várias horas até que pudessem regressar às suas casas. Por prevenção, “começámos a dirigir-nos para zonas sem prédios”.
“Finalmente, consegui falar com Lisboa e a minha filha disse-me que [o sismo] tinha sido enorme e que já estava nas notícias. Soubemos das coisas por Lisboa, porque nem conseguimos perceber o que se estava a passar”, conta ao PÚBLICO.
Num primeiro momento, também Raquel Serra, de 26 anos, não pensou na possibilidade de estar a viver um sismo. “Comecei a sentir tudo a tremer, mas pensei durante alguns momentos: ‘Estou no piso zero. Caiu alguma coisa no piso 1’.” A saída do riad (casas tradicionais marroquinas, com jardins em volta) em que está instalada dá para um túnel, que estava “cheio de fumo” e, portanto, decidiram permanecer no seu interior até novas informações.
Entretanto, Raquel e as restantes pessoas foram encaminhadas para uma praça mais aberta, em que permaneceram entre as 23h30 e as 3h30, para garantir que não existiam réplicas. “Passámos pelos destroços todos, eram maioritariamente paredes que estavam mal construídas e que acabaram por cair”, explica.
Inicialmente, as pessoas foram aconselhadas a não regressarem às suas casas até à 1h da manhã e, mais tarde, o aviso estendeu-se até às 4h. Inês Correia da Silva revela que teve receio de regressar ao apartamento, já que não sabia que danos o edifício poderia ter sofrido. Quando os abalos começaram, descreve, “isto parecia tudo gelatina. É incrível como tudo se mexeu”.
No entanto, o apartamento de Inês Correia da Silva estava exactamente como o tinha deixado quando saiu. “Fizemos as malas todas, vestimo-nos, calçámo-nos, deitámo-nos com as malas e com tudo pronto para estarmos preparados, caso tivéssemos de sair”, conta.
“Durante a noite, tive sempre algum medo porque estávamos no piso zero e tinha sempre medo de que alguma coisa desabasse”, conta Raquel ao PÚBLICO. “Foi um valente susto”, diz a engenheira de processos, que vive em Setúbal e que tinha chegado a Marraquexe apenas na noite anterior ao sismo.
O medo não desapareceu, porque estão a registar-se algumas réplicas, leves, mas que são suficientes para fazer ruir as casas que ficaram em situação precária.
Marraquexe é uma das localidades mais atingidas pelo abalo, com registo de vários edifícios destruídos no centro histórico, património mundial da UNESCO. Na província, há registo de 12 mortos, mas logo a sul, na província de Al Haouz, mais próxima do epicentro, contam-se pelo menos 394 mortos — o último balanço aponta para mais de mil no país.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, “todos os portugueses com quem, até ao momento, foi estabelecido contacto encontram-se bem, não tendo reportado problemas de saúde ou danos materiais substantivos”.
O ministério está a recolher “toda a informação necessária, especialmente a respeitante aos cidadãos portugueses no território”, sublinhando, porém, que “as comunicações em território marroquino estão condicionadas”. Os números do Gabinete de Emergência Consular são o +351217929714 e o +351961706472.
Marrocos, nomeadamente Marraquexe e as zonas de praia marroquinas Saïdia e Al Hoceima, é um dos destinos normalmente procurados pelos portugueses para férias.