Aires Camões: Amianto “já devia ter sido retirado de todas as escolas”

As dúvidas sobre a segurança de um material de construção levaram o Reino Unido a determinar o encerramento ou mudança de mais de uma centena de escolas e edifícios públicos no país.

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O betão autoclavado que tem alarmado o Reino Unido nunca terá sido usado nos edifícios portugueses Matilde Fieschi
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O colapso do tecto de uma escola em Kent, no Sul do Reino Unido, desencadeou inquéritos sobre a utilização do material que estaria na origem desta queda – que não atingiu ninguém, dado que era sábado. O material é um betão autoclavado pré-fabricado disposto em placas, muito utilizado entre os anos 1950 e 1980 no Reino Unido e no Norte da Europa. Segundo o Ministério da Educação britânico poderá estar presente em pelo menos 156 escolas no Reino Unido.

Aires Camões, investigador da Universidade do Minho especializado em materiais de construção, destaca que não conhece casos da utilização desta solução em Portugal.

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Aires Camões é investigador na área de materiais de construção há duas décadas DR

No Reino Unido, há mais de uma centena de escolas e edifícios públicos a serem encerrados por causa destes blocos de cimento. Qual é o risco aqui?

Estas são soluções de betão pré-fabricado em que as placas deste betão são aplicadas no tecto ou nas lajes [pavimento] das escolas ou de outros edifícios.

Estas placas são armadas com varões de aço – e estes varões de aço é que são corroídos. Isto pode acontecer por estarem em zonas à beira-mar devido ao nevoeiro salino e à penetração de cloretos. Mas o problema aqui parece estar relacionado sobretudo com a carbonatação, ou seja, a reacção do CO2 presente na atmosfera com os componentes do betão que vão reduzir o PH desse betão. É um PH elevado, em torno dos 13 ou 13,5, que impede a corrosão das armaduras [os varões de aço]. Como o PH, devido a essa acção de carbonatação vai baixar, as armaduras deixam de estar protegidas e são corroídas. Ao corroerem, aumentam o volume e provocam fissuras no betão envolvente – e, no limite, podem colapsar.

Há alguma forma de prevenir?

Geralmente, se a aplicação de betão for em zonas expostas, todos podemos reparar que, por vezes, aparecem fissuras nas estruturas de betão juntamente com uma “espuma” de ferrugem. Isso é um sinal de que essas armaduras podem estar a ser corroídas – apesar de não significar obrigatoriamente que seja algo de grave. Quando isso acontece, o betão envolvente é retirado para podermos intervir e fazer as reparações necessárias.

Agora, neste tipo de betão autoclavado, que tem uma porosidade muito grande, quando a armadura aumenta de volume, essa porosidade também pode funcionar como uma almofada e, aí, a fissura pode não aparecer por haver uma degradação apenas interna e escondida por essa almofada. Mas, não estando no local, não sei se é este o caso.

Este é um material que já foi ou é utilizado em Portugal?

Que eu tenha conhecimento, esta solução pré-fabricada com betão nunca foi usada cá.

Há umas décadas, houve no mercado uma solução com betão autoclavado, mas em forma de tijolo – chamava-se Ytong. Essa solução foi usada e teve alguns problemas técnicos e de fissuração, mas é um tijolo sem armadura, portanto não apresenta este problema de corrosão que vemos aqui.

Será importante haver uma averiguação nacional para avaliar as estruturas nas escolas e nos edifícios públicos também em Portugal?

No parque escolar existente em Portugal, tanto quanto sei, esta solução nunca foi usada.

Existe, por outro lado, a questão do fibrocimento, mas esse levantamento já foi feito. E, ainda assim, não é uma situação muito preocupante. O problema do fibrocimento é que na sua constituição tem fibras de amianto, que é um produto cancerígeno. À medida que o tempo avança, essas partículas de amianto podem-se soltar e ser absorvidas pelas pessoas. No entanto, ao ar livre essa probabilidade é diminuta – e, geralmente, estas placas de fibrocimento não estão em contacto directo com as pessoas.

Agora, obviamente que essa solução já devia ter sido retirada de todas as escolas. É sempre mais prudente.

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