Santos Silva recusa que europeias sejam teste à política interna de PS ou PSD

Também membro do Conselho de Estado, o presidente do Parlamento diz que as fugas de informação “são uma ofensa” àquele órgão e aos conselheiros.

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Santos Silva interveio na rentrée do PS LUSA/NUNO VEIGA
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O presidente da Assembleia da República considera que as eleições europeias de Junho do próximo ano “não são um teste nem para o PSD nem para o PS do ponto de vista da política interna e do seu ciclo institucional”. Questionado pelo PÚBLICO no final da sua intervenção temática da Academia Socialista, a rentrée do PS que decorre em Évora até domingo, sobre se, além de um teste à liderança de Luís Montenegro no PSD, as europeias não poderão também mostrar o fim de ciclo da liderança socialista, Augusto Santos Silva defendeu que essas eleições “não representam um teste com significado para a política interna”.

“Esse teste, no que diz respeito ao Parlamento e ao Governo, ocorrerá provavelmente em Setembro ou Outubro de 2026”, acrescentou. E reforçou que as europeias “são o que tipicamente em ciência política se chama eleições de segunda ordem”. Uma visão que menoriza o elogio que António Costa fez a Eduardo Ferro Rodrigues no discurso dos 50 anos do PS, em Lisboa, em Abril, quando se referiu ao antigo líder e também ex-presidente do Parlamento como o secretário-geral socialista que deu ao PS a “​primeira maioria absoluta da sua história”, a das europeias de 2004.

A designação “maioria absoluta” usa-se nos resultados eleitorais para designar a conquista de metade dos lugares do Parlamento e pelo menos mais um. Mas nas eleições europeias de 2004, nas quais António Costa era cabeça de lista, o PS de Ferro Rodrigues conquistou 44,5% dos votos — o que se traduziu em 12 de 24 mandatos para o Parlamento Europeu, ou seja, exactamente metade.

Na sua intervenção perante os 80 jovens alunos socialistas, Augusto Santos Silva avisara que o desafio da esquerda nas eleições europeias será procurar “tornar inútil a aliança entre centro-direita e a extrema-direita”, de modo a impedir que haja uma “maioria aritmética de votos entre o PPE - Partido Popular Europeu [onde estão integrados o PSD e o CDS] e os dois grupos de extrema-direita europeia”. “Porque se essa maioria existir, ela funcionará politicamente”, realçou, dando como exemplos práticos a governação em Itália e na Suécia.

“Precisamos de uma estratégia política e não apenas eleitoral”, defendeu, citando Mário Soares para realçar que o combate se faz pelas ideias: “A minha arma é a palavra.” Essa estratégia tem de assentar na “relação de identificação dos cidadãos com os seus eleitos”, para a qual devem os políticos contribuir com uma “linguagem da esquerda democrática” inclusiva, europeísta e social, e construir uma relação entre a agenda social e a acção climática. Neste último ponto, é imprescindível que a transição climática seja acompanhada (e integrada com) de crescimento sustentável e de uma agenda de direitos sociais.

Fugas sobre Conselho de Estado são “ofensa” ao órgão

Questionado sobre se considera graves as fugas de informação acerca de quem falou e do que disse nas reuniões do Conselho de Estado (que António Costa classificou como “selectivas” e até “mentiras”), Santos Silva, que é também membro por inerência do seu cargo, lembrou que se trata de “reuniões reservadas”, pelo que essas fugas “são uma ofensa ao Conselho de Estado e aos conselheiros”.

E deixou uma suspeição quase geral: “É uma questão de honorabilidade dos membros de órgãos tão importantes como o Conselho de Estado saberem respeitar as regras. E eu conheço essas regras, respeito-as, e, portanto, não tenho nada a dizer sobre o que se passa no Conselho de Estado.”

Acerca das eleições presidenciais, para as quais Luís Marques Mendes mostrou disponibilidade há semana e meia, Augusto Santos Silva voltou a admitir apenas o que já dissera em Julho do ano passado, ao deixar a porta aberta para 2026: “Eu acho que as eleições presidenciais de 2026 serão muito importantes. É muito importante que a área política a que eu pertenço esteja representada com uma candidatura forte, unida e da minha parte contribuirei para que esse resultado aconteça.”

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