Álvaro Beleza propõe criação de quotas na política para jovens com menos de 35 anos
A convite do PSD, Álvaro Beleza falou na Universidade de Verão do partido. O socialista criticou a prevalência de “líderes muito grisalhos” na política portuguesa e a contratação de médicos cubanos.
A política portuguesa está preenchida por "líderes muito grisalhos", criticou esta quinta-feira o socialista Álvaro Beleza. Convidado pelo PSD para falar na Universidade de Verão dos sociais-democratas, o também presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) sugeriu a criação de quotas na política, para que os jovens tenham mais espaço na liderança de órgãos políticos. Durante cerca de uma hora, Álvaro Beleza recebeu aplausos efusivos, principalmente quando teceu críticas à decisão do Governo de contratar médicos cubanos para dar resposta à falta de profissionais nos centros de saúde portugueses.
"Assim como se fizeram quotas de género – e bem - para que houvesse mais mulheres na política, nas empresas, administrações e na liderança [de cargos políticos], era altura de criar também quotas para jovens de menos de 35 anos na política", começou por propor o médico socialista Álvaro Beleza, que se dirigia a uma plateia repleta de jovens que o ouvia atentamente.
Tal como na Constituição da República Portuguesa "há idades mínimas" para candidaturas à Presidência da República, "devia haver limite de idade se poderem candidatar a órgãos políticos e executivos", continuou.
O socialista considera que "Portugal tem líderes muito grisalhos": "Faltam-nos mulheres, jovens, na liderança. Estamos com muitos grisalhos no poder." Uma vez que "o mundo está a atravessar uma época estimulante", com uma "transição tecnológica e ambiental" a decorrer, Álvaro Beleza está seguro de que é preciso envolver mais os jovens, que "são muito mais sensíveis e têm muito mais informações".
"Portugal precisa de ambição, de não ter medo de ter ambição. Precisa de ter uma visão de futuro com um crescimento económico sustentável e amigo do ambiente", defendeu o médico socialista. E deixou um recado aos mais novos: "Se vocês não se impuserem, a minha geração não desampara a loja! É preciso sangue novo". Rapidamente a sala se encheu de aplausos.
Acordo com "ditadura comunista não faz sentido"
Focando-se na sua área profissional, Beleza teceu depois fortes críticas à decisão do Governo de António Costa de contratar entre 200 a 300 médicos de países da América Latina, incluindo Cuba.
"Se acho bem contratarmos médicos cubanos quando temos médicos portugueses? Não. Se investirmos nos [médicos] que temos, temos até de sobra", começou por criticar. E foi mais além: "Portugal precisa de gente de fora, mas fazer acordos e contratos com um Governo de uma ditadura comunista, como Cuba, não faz qualquer sentido".
A crítica levou a que, uma vez mais, se fizessem ouvir fortes aplausos. Um dos jovens questionou então o socialista se "mantém confiança" no actual ministro da Saúde. Em resposta, Álvaro Beleza limitou-se a reconhecer que Manuel Pizarro é "um saco de pancada" e que ser responsável pela pasta da Saúde é "o pior lugar da política portuguesa".
Para Beleza, a estratégia de Portugal deve ser procurar "ser porto seguro" para que consiga "atrair jovens, ser uma sociedade aberta, tolerante e inovadora". "Somos um país seguro, temos tudo. Só falta uma coisa: tornar a fiscalidade competitiva em termos internacionais", disse, aproveitando, uma vez mais, para criticar o estado actual da política portuguesa: é necessário ter "empresários na política; no Governo... Precisamos de ter gente a governar que saiba o que é ter de pagar salários no fim do mês", disse.
Socialista, mas "livre" para dizer o que pensa
Durante cerca de uma hora, Álvaro Beleza, que "sempre quis vir à Universidade de Verão do PSD", ouviu e respondeu a várias questões dos jovens socias democratas. E deixou claro que, mesmo sendo socialista e estando num país governado por uma maioria desse partido, é "livre de dizer" o que pensa.
"Vim para a política inspirado, em primeiro lugar, por Francisco Sá Carneiro e, depois, por Mário Soares. E ambos tinham essa característica: eram livres e corajosos. Não concebo estar na política e não dizer o que penso. Isso são proletários de máquinas", criticou.
Com Paulo Rangel presente na sala, Álvaro Beleza quis aproveitar a oportunidade e elogiar o eurodeputado e social-democrata, que é "um dos políticos portugueses que diz o que pensa e tem essa coragem", concluiu.