O PSD acordou
Montenegro fez o trabalho de casa no IRS e conta com a ajuda de Marques Mendes e de Marcelo Rebelo de Sousa para sacudir a maioria absoluta de Costa.
Luís Montenegro é líder do PSD há mais de um ano e tem havido uma palavra que se colou por demasiado tempo à sua liderança: letargia. Primeiro, as justificações eram as de que se tratava de uma liderança muito recente, depois que não estava no Parlamento e que isso dificultava a sua tarefa, que se deixava ficar na sombra do Chega ou que era até um líder a prazo, porque podia vir aí Pedro Passos Coelho.
Nas últimas semanas, nesta rentrée política que ainda decorre, o PSD, porém, parece ter acordado e Montenegro contou para isso com várias ajudas.
Em primeiro lugar, a actual direcção do partido mostrou ter perdido algum tempo a fazer o trabalho de casa e não se limitou a fazer uma festa do Pontal (saudosista de um tempo e um modo de fazer política que já não faz muito sentido) para fazer o ‘V’ de vitória com os dedos. Pôs em cima da mesa várias propostas para a redução do IRS que preparou com o apoio de um conjunto de nove técnicos, fiscalistas e economistas.
As mudanças no IRS são o próximo grande tema político e uma prioridade de todos os partidos. Esta é, aliás, a última grande reversão dos anos da troika que os portugueses esperam impacientes há mais de dez anos. E agora há vontade dos principais partidos e há dinheiro nos cofres das Finanças.
O PS, no entanto, preso aos seus timings de elaboração do Orçamento do Estado e às cautelas naturais do ministro das Finanças, Fernando Medina, não tem ainda uma proposta alternativa para apresentar e, por isso, o PSD ficou a ocupar o espaço mediático de uma forma a que já não se assistia há muito.
Convergiu ainda para este momento de despertar do PSD o próprio posicionamento de Luís Marques Mendes como pré-candidato presidencial. O ex-líder do PSD e há muitos anos comentador televisivo bem que tentou ensaiar o tiro de partida no Pontal e, sem qualquer eco, acabou por o fazer de forma mais explícita no seu espaço de comentário na SIC. Revelou por fim a sua intenção – um segredo mal guardado –, mas acima de tudo a ambição sem pejo dos sociais-democratas em tentar um feito histórico: manter na sua área política a Presidência da República durante 30 anos consecutivos (20 já estão garantidos com Cavaco e Marcelo).
Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa. Mais enérgico e interventivo desde que perdeu a batalha da demissão de João Galamba para António Costa, o Presidente da República está em modo de marcação cerrada ao Governo. Obrigou-o a rever o diploma da carreira dos professores e vetou de forma dura o pacote Mais Habitação, sugerindo mesmo que Costa não está mais do que a atirar areia para os olhos das pessoas com aquele tipo de medidas.
A rentrée ainda agora começou, mas está a mostrar que a direita democrática acordou da letargia. Quanto a António Costa, ainda está de férias (só as interrompeu brevemente para participar na cimeira da CPLP). Pode ser tudo só uma questão de tempo.