Chegamos a Setembro, milhares de estudantes que ingressam pela primeira vez no ensino superior migram das suas terras para as suas novas casas, onde passarão os seus anos de licenciatura a construir memórias bonitas e uma vida. É o cenário idílico de qualquer estudante deslocado ter um sítio para chamar de seu, confortável e a um preço acessível.
Não é isso que conseguimos oferecer a este estudante, no entanto. Se num minuto se encontra a concluir o ensino secundário, no outro passa Agosto inteiro numa incessante procura em sites e grupos de Facebook por uma casa que não ultrapasse o orçamento familiar, seja em que condições for. O mercado imobiliário alimenta-se deste desespero, galvanizando os preços das casas disponíveis como nunca antes, e é exactamente por isso que em regiões como Lisboa ou o Porto os preços sobem para uma média de 450 euros. Mas noutros sítios também conhecidos pela sua cultura universitária, como Coimbra, os preços sobem agora para os 300 a 400 euros, algo inédito e exponencial.
Depois de ceder a um de dois cenários — pagar imenso por um quarto razoável, ou pagar menos por um péssimo quarto — a família do estudante vê-se ainda confrontada com outro problema. A maioria destas empresas gestoras de estúdios e quartos e até mesmo os senhorios particulares pedem quantias absurdas de cauções e rendas adiantadas. A justificação? Pouca ou nenhuma. São entidades que prosperam com a ansiedade de pais e filhos de garantir um lugarzito na cidade nova a todo o custo antes que desapareça. São também entidades que preferem o alojamento de curta duração, internacional e mais rentável, especialmente nas áreas metropolitanas, reduzindo a oferta de quartos a estudantes.
As associações académicas de todas as partes do país fazem apelos e mostram a sua clara preocupação pelo cenário de crise habitacional, que sendo generalizado a toda a população portuguesa afecta inevitavelmente estes jovens adultos que começam aqui a sua jornada. O governo não responde, apesar de tudo, não mostra uma solução e nem sequer um controlo daquilo que é um abuso de posição contratual destas empresas e senhorios, que impõem os seus preços, as suas condições, a sua vilania.
A oferta pública de habitação estudantil acaba por não ser uma opção a considerar. Os escassos edifícios dispersos pelas regiões universitárias, mesmo aqueles que foram mais recentemente optimizados para albergar mais estudantes, estão sobrelotados com os que não conseguem de outra forma viver no distrito da universidade escolhida. No geral, mostram-se edifícios envelhecidos, energeticamente despreparados para as exigências actuais e futuras, com uma universalizada degradação de mobiliário e electrodomésticos.
Advogar por uma melhoria colectiva das condições da oferta pública residencial e controlo do mercado já não é suficiente, é preciso exigi-lo. Não é sustentável para as famílias e para estes novos estudantes verem-se sufocados numa dívida enorme para um quarto minúsculo, fora todas as outras inúmeras despesas já sufocam um jovem deslocado. É preciso fazer algo no imediato, nas ruas e institucionalmente.
Portugal não sofre esta crise isoladamente e os estudantes portugueses não padecem sozinhos desta especulação. Todo o cenário europeu está contaminado pela escalada dos preços dos quartos. Isso dá origem a movimentações sociais reivindicativas na Itália, por exemplo, ou a medidas alternativas como as casas multigeracionais populares na Alemanha. É um problema global, europeu, que merece a maior das atenções dos governos nacionais e das instituições europeias, para que se extinga ou se mitigue.
O que não podemos é deixar estes estudantes desamparados, e observar ano após ano, o escalar infinito dos preços e a extorsão em plena luz do dia de grande parte dos rendimentos familiares para uma oferta muito pouco compensatória.