Neonazi e condecorado pelo Kremlin: quem era Dmitri Utkin, o número dois do Grupo Wagner

O co-fundador do grupo Wagner combateu na Tchetchénia e apoiou separatistas no Leste da Ucrânia, antes da invasão russa. Morreu no mesmo acidente que matou Yevgeny Prigozhin.

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Faixa de homenagem a Yevgeny Prigozhin (esquerda) e Dmitri Utkin (direita), referido como "Mr. Wagner, rei dos reis" Reuters/STRINGER
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O nome de Dmitri Utkin não é, para muitos, o primeiro nome que surge na cabeça quando se fala do Grupo Wagner. Mas o antigo veterano de guerra da Tchetchénia, adepto de ideologias neonazis é um dos co-fundadores do grupo de mercenários, tal como o líder Yevgeny Prigozhin (Ievgueni Prigojin na transliteração em português). Esta quarta-feira, 23 de Agosto, ambos morreram quando o jacto em que viajavam se despenhou a norte de Moscovo.

No documento de fundação do Grupo Wagner, datado de 1 de Maio de 2014, Utkin é referido como “comandante” do grupo e responsável pelo treino, disciplina e recrutamento de novos soldados, escreve a enciclopédia Britannica. Prigozhin, por sua vez, era apontado como “director”, com responsabilidades que iam da obtenção de armas à angariação de fundos para o grupo.

Quando a União Europeia (UE) acrescentou o grupo de mercenários à lista de sanções, escreveu em comunicado que grupo o Wagner era “liderado por Dmitri Utkin e financiado por Yevgeny Prigozhin”.

Ainda que fosse um das figuras de autoridade no grupo, um relatório do Soufan Center sobre a formação e evolução do Grupo Wagner explica que a ideologia de Utkin não se alinhava por inteiro com as motivações “pecuniárias e nacionalistas” do exército privado. Pela sua pele abundavam tatuagens nazis, que incluíam uma cruz suástica, uma águia e os raios das SS (Schutzstaffel, organização paramilitar nazi).

Segundo a New Yorker, Utkin também costumava cumprimentar os seus subordinados com “Heil!” e utilizava uma boina da Wehrmacht, semelhante aos utilizados pelos soldados alemães na Segunda Guerra Mundial. Alegadamente, também assinava, por vezes, com dois raios das SS junto ao seu nome.

Utkin terá sido o responsável pelo nome do Grupo Wagner, servindo-se do seu próprio nome de código. O nome é uma homenagem ao compositor Richard Wagner, músico preferido de Utkin e de Adolf Hitler.

Da Tchetchénia à Ucrânia, passando pela Síria

Dmitri Utkin nasceu em Junho de 1970, na Rússia. Foi agente dos serviços de informação militar (GRU), das forças especiais russas, tendo sido destacado para combater nas duas guerras na Tchetchénia, entre 1994 e 1996 e entre 1999 e 2000.

No início dos anos 2000, e durante um período de dez anos, foi comandante da segunda brigada Spetsnaz dos GRU na fronteira com a Estónia, segundo o Guardian.

Continuaria ao serviço dos GRU, onde chegou a tenente-coronel, até 2013, integrando depois o Grupo de Segurança Moran (MSG), uma empresa de segurança privada especializada em protecção marítima, diz o Centro de Estudos Estratégicos e Internacional. O MSG seria responsável por organizar os Corpos Eslavos, criados para apoiar o regime de Bashar al-Assad durante a Guerra Civil da Síria, em 2014. A corporação, porém, acabou por ser derrotada em confrontos com o Estado Islâmico.

Utkin foi acusado de envolvimento em vários crimes de guerra, cometidos durante o tempo passado na cidade síria de Homs. De acordo com a Sky News, numa ocasião, terá, alegadamente, ordenado o espancamento até à morte de um desertor e exigido que tudo fosse filmado.

Depois do falhanço da missão na Síria, Utkin acabou por abandonar o MSG e fundou o Grupo Wagner, ainda em 2014. No mesmo ano, enquanto membro do grupo, terá participado nas operações russas no leste da Ucrânia.

Em Dezembro de 2016, foi condecorado como Cavaleiro da Ordem da Coragem, distinção russa que reconhece actos altruístas de coragem e valor, numa cerimónia no Kremlin.

Devido ao apoio prestado aos grupos separatistas russos na Ucrânia, o número dois do Grupo Wagner acabou por ser sancionado pelo Departamento do Tesouro norte-americano, em 2017, segundo o think tank New America.

A última aparição pública de Dmitri Utkin deu-se em Julho, cerca de um mês depois da rebelião falhada. Num vídeo publicado por Prigozhin na internet, Utkin falou aos soldados na Bielorrússia. “Isto não é o fim, é só o início do maior trabalho do mundo, que continuará muito em breve”, disse. “E bem-vindos ao inferno”, terminou.

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