Corrida ao pólo sul da Lua
A perda da sonda Luna-25 é um golpe terrível nas ambições lunares russas e põe em causa a capacidade de executar novas missões que estão previstas no programa espacial da Rússia.
Depois do sucesso das primeiras missões tripuladas norte-americanas na Lua, a antiga União Soviética teve um prémio de consolação: mandou algumas sondas lunares para recolher amostras. A Luna 16, 20 e 24 conseguiram enviar para a Terra alguns gramas de rególito lunar e os russos tiveram então acesso a um pequeno tesouro. Era um privilégio poder analisar amostras lunares recolhidas in situ.
Curiosamente, em 1993, três pequeníssimas amostras do solo lunar recolhidas pela Luna 16 que tinham sido oferecidas à viúva de Serguei Korolev, o grande mentor do programa espacial soviético, foram vendidas em leilão por mais de 400 mil dólares. Entretanto, passaram 47 anos desde que a última sonda russa (Luna 24) pousou na Lua. Durante estes anos todos, os russos andaram ocupados em Vénus e falharam completamente em Marte, mas há poucos dias lançaram uma sonda nova para a Lua: a Luna 25.
A sonda entrou em órbita lunar na passada quarta-feira, 16 de agosto, e no dia 19 devia ter executado uma manobra para entrar numa órbita mais baixa chamada “pré-pouso”. Mas alguma coisa correu mal e impediu a sonda de executar essa manobra com os parâmetros requeridos. Provavelmente a travagem para entrar na nova órbita durou demasiado tempo e a sonda acabou por entrar numa órbita errada que a levou a despenhar-se na Lua.
No entanto, os russos não estavam sozinhos na corrida ao nosso satélite. Dentro de poucos dias será a vez do módulo lunar Vikram da sonda indiana Chandrayaan-3 tentar a sua sorte. Tal como os russos, os indianos visam a zona polar sul (69º S), mas o Vikram tem um pequeno rover de 26 quilos que vai dar alguma mobilidade à missão e permitir conhecer a mineralogia da superfície lunar e das rochas em torno do local de aterragem. Se correr bem, não faltarão informações a chegar à Terra nos próximos tempos, mas a sonda russa teria uma duração maior em termos de missão (um ano), enquanto o Vikram não passará dos 14 dias.
Tudo isto é muito importante para conhecer uma região inexplorada do nosso satélite natural. No entanto, há sempre um problema complicado nestas missões, que é pousar em segurança. Há poucos meses, a missão privada japonesa Hakuto-R também falhou nesta parte ao despenhar-se na Lua. A Índia teve o mesmo problema em 2019 com a Chandrayaan-2, quando o outro Vikram fez um pouso violento. Ora a Rússia já não alcançava a Lua desde 1976 e o regresso correu mal.
A perda da Luna 25 é um golpe terrível nas ambições lunares russas e coloca em causa a capacidade de executar novas missões que estão previstas no programa espacial russo. O país está atualmente muito isolado no contexto científico internacional devido à guerra na Ucrânia e a cooperação espacial com o Ocidente está reduzida à Estação Espacial Internacional. Por isso, uma vitória na Lua teria sido motivo de orgulho nacional. Portanto, a perda da Luna 25 foi uma grande desilusão. É provável que a Rússia nunca mais volte à Lua, deixando a exploração lunar para outras potências espaciais com mais recursos e mais capacidades.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico