A Torre deitou abaixo os “tubarões” da Volta

Afinal, a Volta a Portugal não é só da Glassdrive. A subida à Serra da Estrela fez emergir um herói improvável e deitou abaixo outros de quem se esperava heroísmo, sobretudo, os da equipa bicampeã.

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Delio celebra na Torre Volta/Oficial
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Nesta segunda-feira dificilmente não haveria um prémio supremo para o primeiro ciclista a chegar aos 1993 metros de altitude na Torre, no topo da Serra da Estrela. O estado da classificação daria quase garantidamente a camisola amarela ao primeiro a chegar ao cimo da montanha e foi dessa forma que Delio Fernández, da histórica formação do Tavira, se agarrou à camisola que todos querem. Fê-lo aos 37 anos, quase dez anos depois de ter sido terceiro na Volta a Portugal. E quem esperava que ainda fosse capaz de vencer na Torre nesta fase da carreira?

Além de dar um destaque inesperado a um veterano, este dia de Volta, o primeiro com montanha “a sério”, deixou a nu algo que poucos esperavam antes da prova: afinal, a Volta não é só da Glassdrive.

Antes da corrida era fácil traçar um cenário no qual Mauricio Moreira, Frederico Figueiredo, Artem Nych e James Whelan ficariam no top 5 da corrida, mas esse cenário é, agora, uma total utopia.

Apenas Figueiredo respondeu a preceito quando as dificuldades surgiram (e mesmo esse acabou por vacilar) e Moreira, bicampeão da Volta, até foi mesmo o primeiro a ceder – assim que a estrada inclinou, ainda na Covilhã, o uruguaio ficou “a pé”, antes mesmo de ciclistas pouco dotados na montanha. Perdeu quase dez minutos e não vai ser tricampeão da Volta.

Figueiredo, vice-campeão do ano passado, acabou por ter de correr “sozinho”, quando se esperava que a Glassdrive fosse fazer o que quisesse da corrida. Não só não fez como ficou até sem o seu número um, Moreira, e viu perdas consideráveis para os números dois, três e quatro: Figueiredo, Nych e Whelan. O primeiro Glassdrive na classificação geral pós-Torre, que é Figueiredo, surge apenas no nono lugar, a 1m22s da camisola amarela.

Glassdrive controlou, mas só um pouco

Esta etapa começou com um cenário curioso e bastante incomum: o camisola amarela em fuga. O líder da corrida vai, geralmente, “sentado” no pelotão, mas o perfil de João Matias, um sprinter, fez com que o português optasse pela estratégia incomum – sabia que nunca ficaria com os trepadores na subida final, portanto tentou adiantar-se mais cedo, até para tentar somar pontos em metas-volantes.

Havia, assim, uma camisola amarela na frente, entre a meia dúzia de fugitivos, e sete camisolas mais atrás, na cabeça do pelotão – as da equipa Glassdrive, que comandou a corrida durante todo o dia.

O grupo de aventureiros tinha o destino traçado desde cedo – nunca passaram dos três minutos de vantagem – e o pelotão iria neutralizá-lo quando entendesse ser bom momento.

Foi já perto da Covilhã, no início da subida à Torre, que o pelotão passou a ser também o líder da corrida e deu-se, aí, um cenário inesperado: Mauricio Moreira em dificuldades assim que a estrada inclinou. Mas apesar de ficar sem o plano A, a Glassdrive ainda tinha os planos B, C e D – Figueiredo, Nych e Whelan, por esta ordem.

E acto contínuo com a fragilidade de Moreira a Glassdrive mandou Whelan para a frente – o que permitiu obrigar outras equipas a controlarem o pelotão e, em simultâneo, terem Whelan na frente para uma ajuda posterior na etapa. Era a estratégia audaz de quem pode dar-se ao luxo de ter tantos ciclistas de alto nível no panorama português ou, em caso de fragilidade de Whelan, a tentativa de “queimar” o ciclista antes de ele simplesmente descolar.

Figueiredo acabou, como se esperava, por atacar no pelotão e formou-se na frente um grupo de seis, com três Glassdrive: os tais B, C e D. Mas Whelan estava mesmo num dia de incapacidade e a estrada acabou por comprová-lo. Aquilo que parecia ser um grupo condenado a ser da Glassdrive e mais alguns “intrusos” acabou por ter apenas um ciclista da equipa campeã – Frederico Figueiredo.

A cerca de oito quilómetros da Torre, numa parte menos dura da subida, deu-se a maior surpresa: também Figueiredo ficou para trás. Não havia nenhum Glassdrive no quarteto da frente, que tinha Txomin Juaristi, Colin Stüssi, Delio Fernández e Jesús del Pino. Foi Delio o mais forte e venceu isolado na Torre.

Nesta terça-feira há mais montanha, mesmo que não tão dura, com chegada à Guarda.

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