Voltámos a sair de casa dos pais (mesmo) antes dos 30: aos 29,7 anos

É na Croácia que a idade estimada de saída do agregado familiar é mais alta: 33,4 anos. Homens atrasam a idade de saída e os jovens nos países nórdicos dizem adeus aos 21.

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Nuno Ferreira Santos
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Os jovens em Portugal terão voltado a conseguir deixar a casa dos pais antes de fazerem 30 anos. Em 2022, a idade média para sair do domicílio familiar baixou para os 29,7 anos, depois de, em 2021, Portugal ter sido o país da União Europeia (UE) em que os jovens saíram mais tarde de casa dos pais: aos 33,6 anos.

Nos 27 países da UE, a média fica-se pelos 26,4 anos, segundo os dados do Eurostat enviados ao P3, a partir do Inquérito às Forças de Trabalho da UE. Em 2019, antes da pandemia de covid-19, tinha atingido o valor mais baixo, 26,2 anos. A idade média com que os jovens saem de casa dos pais é uma aproximação com base no facto de os inquiridos viverem ou não no mesmo agregado familiar que os pais.

Durante o último ano, foi na Croácia que os jovens ficaram até mais tarde no quarto onde cresceram — até aos 33,4 anos —, seguindo-se a Eslováquia (30,8) e a Grécia (30,7). Os dados reflectem, mais uma vez, as diferentes políticas de habitação na Europa do Norte e do Sul. Sem surpresas, os jovens nos países nórdicos conseguem sair muito mais cedo, embora não antes dos 20: aos 21,3 anos na Finlândia, 21,4 na Suécia e 21,7 na Dinamarca.

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Em Espanha e na Grécia, a idade de saída bateu recordes em 2022 e continua mais alta do que era até durante a pandemia. Seria de esperar que o mesmo acontecesse em Portugal”​, comenta o sociólogo Pedro Góis, acrescentando que não se pode ainda afirmar que os jovens estão a conseguir sair mais cedo de casa dos pais. A escassez de habitação provocou um novo adiamento, mesmo nas periferias”, diz. “Não é difícil percebermos que não se alterando questões estruturais [precarização do mercado de trabalho e preços da habitação] esta tendência não desaparecerá nos próximos anos. O importante não é uma oscilação de meses”​, diz.

Depois do pico (ou melhor, do vale) de 2021, os dados aproximam-se dos que se registaram antes da pandemia, mas a idade de saída em Portugal ainda continua a estar mais elevada do que em 2018 (28,9) e 2019 (29).

Nesse ano, quando Portugal bateu no fundo da tabela, uma quebra na série inviabiliza possíveis comparações com anos anteriores. Ainda assim, o Eurostat argumentava que a causa do aumento era “mais estrutural, com uma mudança na composição do agregado familiar” e uma deterioração no mercado de trabalho que afectou especialmente os mais jovens.

De 2021 para 2022, a dimensão média dos agregados familiares em Portugal diminuiu de 2,7 para 2,5 membros. Ficar em casa dos pais depois dos 26 não é uma escolha, disse mais de metade dos jovens nesta faixa etária ouvidos para o II Plano Nacional da Juventude, em 2021.

Olhando também para o género, foram as jovens mulheres finlandesas que saíram mais cedo, aos 20,5 anos, e os homens croatas que ficaram mais tempo: 34,7 anos. Em Portugal, os homens voltaram a ficar com os pais até mais tarde, até aos 30,4 anos, enquanto as mulheres saíram aos 29.

"Quanto mais Sul e leste mais tarde se sai de casa, e mais aumenta o intervalo entre homens e mulheres", começa por dizer o sociólogo António Brito Guterres. "Em relação a Portugal, há uma correlação com o aumento do preço das casas e com a diminuição do salário real, claro."

Isto é "óbvio", mas o que pode ser interessante, acrescenta, são as perguntas que estes dados levantam. Apesar de haver um aumento da idade em que as pessoas saem de casa, em relação aos anos anteriores à pandemia, "não nos dizem como é que as pessoas saem de casa" ou "que mudanças existem nas formas de viver". "Mesmo com empregos com salários médios, as pessoas estão a morar com outras pessoas", exemplifica.

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