Manifestação contra a JMJ juntou algumas centenas de pessoas em Lisboa
Um protesto contra os gastos públicos da JMJ e os abusos sexuais na Igreja Católica juntou centenas de pessoas no Martim Moniz, em Lisboa.
Uma manifestação contra a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a Igreja Católica juntou algumas centenas de pessoas, ao final da tarde desta sexta-feira, na praça do Martim Moniz, em Lisboa. Os protestos foram dirigidos aos custos públicos da JMJ ou aos abusos sexuais na Igreja Católica. A manifestação foi organizada pelo movimento Sem Papas na Língua, que surgiu a propósito desta manifestação.
O local combinado para os protestos era junto à Capela de Nossa Senhora da Saúde. Em frente, já havia cartazes espalhados ora que tinham escritos “Nem Deus nem o Estado, no fim tudo queimado” ou desenhado um boneco numa cruz (em referência a Jesus Cristo). Aos poucos, por volta das 19h, foram chegando pessoas com cartazes: “4815 + 40: Quantos mais precisam que sejam abusados?” numa referência aos casos de abusos sexuais na Igreja Católica; ou “Rich Church, Poor People” (Igreja Rica, Pessoas Pobres) em alusão aos gastos na JMJ.
Maria Luísa Sequeira segurava este último cartaz e foi uma das primeiras pessoas a chegar. “Estou revoltada com o que está a acontecer e com a passividade que estamos a ter”, assinalou ao PÚBLICO relativamente aos gastos públicos na JMJ. “Falo da jornada, dos gastos, da prepotência de se tomar o espaço público e do fingimento de que é tudo para o bem do povo.” Também mencionou os abusos na Igreja Católica e como “não se tem dado dignidade às vítimas”.
Ao longo deste final de tarde, juntaram-se algumas centenas de pessoas neste protesto. Viam-se bandeiras da comunidade LGBT, trans e não-binária, bem como do anarquismo. E foram surgindo mais cartazes com as mensagens: “País na miséria, não queremos esta vergonha” ou “Nem toda a festa do mundo tira ao padre o sangue das mãos”.
Maria Santos, de 25 anos, foi uma das manifestantes. Não concorda com o investimento público com um evento de uma única religião e que dura uma semana. “Manifesto-me contra a decisão do Governo de investir na JMJ”, notou a jovem. Não é contra a existência da JMJ nem contra as escolhas religiosas, mas sim contra o investimento público nelas.
A manifestação foi convocada nas redes sociais pelo movimento Sem Papas na Língua. Nenhum dos organizadores quis dar entrevistas, justificando que não queria falar individualmente. Durante o protesto, foi distribuído um manifesto de seu nome “Explorai os presos. Ámen!”
Um dos organizadores leu esse manifesto. “Uma das primeiras informações que nos chegaram sobre estes dias afirmava quão útil e edificante seria o acordo da Igreja com a direcção-geral dos serviços prisionais para a construção de confessionários em várias prisões do país”, refere-se numa das passagens do manifesto relativamente ao facto de terem sido contratados reclusos para a construção dos confessionários em Belém.
Várias críticas à Igreja
As pessoas nestes protestos foram-se manifestando contra a JMJ, os gastos públicos na JMJ vindos de um Estado laico, a Igreja Católica, os abusos na Igreja e a construção de confessionários por reclusos. Na convocatória divulgada no Instagram também se indicava que os protestos seriam contra “as posições conservadoras sobre a sexualidade”.
“Abaixo o Papa! Fora a Concordata [tratado entre a Santa Sé e o Estado]”, gritou-se ao longo da manifestação, entre a leitura do manifesto e de excertos da Bíblia. “Não estamos todos, faltam as bruxas”, clamou-se também, numa referência à perseguição da bruxaria pela Igreja Católica.
A certa altura, várias pessoas – quase todas sem mencionarem o nome – foram fazendo discursos e criticando a Igreja, a JMJ e o investimento do Governo e da Câmara Municipal de Lisboa. Nem o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nem o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, deixaram de ser criticados. “É o falhanço de tudo”, apontou alguém. “É a vitória da Igreja! As vítimas da violência sexual da Igreja Católica não estão a ser sanadas.” E ainda outro participante afirmou: “Nunca mais podemos permitir que as crianças sejam violadas.”
Houve ainda quem abordasse os direitos das mulheres e da comunidade trans. E até quem criticasse a gestão da cidade durante a JMJ: “Porquê fechar o trânsito e a mobilidade num só evento religioso?” Um dos participantes assinalou ainda que não se questionava as escolhas religiosas, desde que fossem feitas com respeito e humanidade.
Paralelamente a estes protestos, jovens que participavam na JMJ – alguns deles estrangeiros – iam passando e olhando com admiração e questionamento. Ao lado, um outro evento da própria JMJ começava na praça do Martim Moniz. “Como é que é jovens da JMJ?” – ouvia-se vindo de um palco, como som de fundo da manifestação.