Indústria europeia em quebra, com efeito da redução da procura

Inflação ainda alta, taxas de juro a subir e abrandamento chinês são as explicações para que os índices de actividade na indústria registem os piores resultados desde o auge da pandemia

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Fábrica automóvel na Alemanha Reuters/POOL New
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Aos acréscimos de custos gerados pela guerra na Ucrânia, o sector industrial mundial viu agora juntar-se à sua lista de problemas a quebra da procura provocada pela inflação, a subida das taxas de juro e o abrandamento da China. Na Europa, os índices de actividade caíram para o nível mais baixo desde a pandemia e o alerta em relação a uma possível recessão ficou mais forte.

Os indicadores relativos à actividade na indústria conhecidos esta terça-feira dificilmente poderiam ser mais sombrios, especialmente na Europa. Os índices PMI, calculados pela Standard & Poor’s, servem para perceber, quase em tempo real, como é que está a evoluir a actividade e, no que diz respeito ao sector industrial à escala mundial, manteve-se, em Julho, nos 48,7 pontos. É um valor que, não só, é o mais baixo desde Junho de 2020, quando o mundo enfrentava o auge da pandemia, como também significa, por estar abaixo da barreira dos 50 pontos, que se está a passar por uma fase de contracção.

A quebra foi particularmente acentuada na Europa. O índice PMI industrial da zona euro passou de 43,4 pontos em Junho para 42,7 pontos em Julho, o mais baixo desde Maio de 2020, revelando que a indústria nos países da moeda única está a contrair-se ao ritmo mais rápido desde a pandemia.

O problema central neste momento está relacionado com a quebra que actualmente se verifica na procura. Isso é especialmente evidente na Alemanha, onde as empresas declararam estar a registar uma redução acentuada das encomendas. Nas outras maiores economias europeias, os índices também revelam uma tendência negativa, mas não tão acentuada como na Alemanha.

As quebras na procura sentida pelo sector industrial europeu ocorrem numa conjuntura em que a inflação alta e a subida das taxas de juro estão a limitar cada vez mais a capacidade das famílias de manterem os seus níveis de consumo. Mas para além disso, a indústria europeia, particularmente a alemã, também é afectada pelo abrandamento da economia chinesa, que além de exportadora, também foi conquistando um peso importante na economia mundial como importadora.

É também isto que explica que em vários países asiáticos como o Vietname, Japão ou Coreia do Sul, para além da própria China, se tenha verificado em Julho uma quebra dos índices de actividade na indústria.

Na Europa, os resultados negativos observados na indústria em Julho constituem um sinal de que o risco de entrada da economia em recessão ainda não pode ser descartado. No final de 2022 e na primeira metade deste ano, a zona euro conseguiu escapar por pouco à recessão técnica, com variações do PIB, ou nulas, ou ligeiramente positivas. Esta segunda-feira, o Eurostat anunciou que a variação do PIB da zona euro no primeiro trimestre foi de 0,3%, um crescimento que tem metade da sua explicação na Irlanda que, com o contributo decisivo das operações financeiras das multinacionais presentes no país, cresceu 3,3% no segundo trimestre, quando no anterior se tinha contraído 2,8%.

Já na Alemanha, a maior potência industrial europeia, a variação do PIB no segundo trimestre foi nula. O acentuar das dificuldades na indústria já registadas no arranque do terceiro trimestre ensombra as expectativas para a segunda metade do ano. A mais recente previsão do FMI para a economia alemã no total de 2023 é de uma contracção de 0,3%.

E para Portugal, que no segundo trimestre, depois de um arranque de ano positivo, viu a economia estagnar, principalmente por força de um abrandamento das exportações, estes sinais negativos vindos das maiores potências europeias são motivo de preocupação relativamente à evolução da procura externa.

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