Sindicatos dos professores decepcionados com Marcelo. Cedência “sabe a pouco”

Dirigentes dos sindicatos e das associações que representam os professores avisam que contestação deverá continuar no arranque do ano lectivo.

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Protestos dos professores deverão continuar no início do ano lectivo, avisam dirigentes sindicais Nuno Ferreira Santos
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Foi com desilusão e num tom unanimemente crítico que os dirigentes dos sindicatos e das associações representativas dos professores reagiram às declarações do Presidente da República, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter admitido, este domingo, que deverá agora promulgar a nova versão do decreto-lei sobre a aceleração da progressão da carreira dos educadores de infância e professores do ensino básico e secundário. ​

A posição de Marcelo Rebelo de Sousa “sabe a pouco”, tendo em conta os “oito pontos e os limites” que enunciou na nota em que explicou por que devolveu o diploma, reagiu o líder da Federação Nacional da Educação (FNE), Pedro Barreiros. “Se agora o promulga apenas e só dizendo que há uma abertura para se avançar nesta legislatura ou noutra, isso não é nada ou é muito pouco", contesta, reclamando que se abra, desde já, um novo processo negocial.

"O Presidente da República diz que o Governo entreabriu a possibilidade de não ficarem já concluídas as negociações, mas isso surge muito em abstracto e não pode ser bem acolhido", critica ainda, lembrando que "há três versões do diploma que andaram a passear entre Marcelo Rebelo de Sousa e o Governo", documentos que os sindicatos continuam a desconhecer.

“É preciso que se abra realmente uma janela, não vamos lá com uma frincha“, ilustra, recordando que a FNE fez um acordo com o ministro da Educação, na passada sexta-feira. “Não venham dizer que estamos a ser intransigentes. O que parece estar aqui mais em causa é a teimosia, o ego do primeiro-ministro”.

Lembrando também o conjunto de motivos invocados por Marcelo para vetar o diploma, Carla Piedade, do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop), assume que está "decepcionada" e lamenta a intenção anunciada pelo Presidente da República. “Todas as razões que apresentou para vetar mantêm-se. A única razão que invoca agora é a de que o Governo iria incluir a possibilidade de negociação, mas esta porta entreaberta é uma porta que o Governo pode facilmente fechar”, observa.

Com este discurso, acrescenta, “o Presidente da República não faz favor algum aos professores, mas sim ao Governo” e, desta forma, “a luta só pode continuar no próximo ano lectivo”.

Igualmente crítico, Francisco Gonçalves, da Federação Nacional de Professores (Fenprof), começou por afirmar, em declarações à Antena1, que “é uma conhecida estratégia colocar frases bonitas e bem intencionadas, nos preâmbulos da lei, mas depois o articulado não dar resposta aos problemas “.

Apesar de reconhecer que "é positivo admitir que o processo não está fechado", Francisco Gonçalves defendeu que é preciso que haja propostas que explicitem como se vai fazer a recuperação do tempo de serviço congelado.

Os directores das associações de professores também não ficaram satisfeitos com as declarações do Presidente da República. Apesar de qualificar igualmente como “positiva a cedência” anunciada, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, afirma que “sabe muito a pouco” e diz ter dúvidas de que a posição de Marcelo Rebelo de Sousa "acalme a contestação dos professores no arranque do ano lectivo e traga a paz e a estabilidade tão pedida pelo Presidente".

Filinto Lima quer saber "quanto é que o Governo está disposto a ceder nas negociações" e insiste que "o caminho tem que passar pela recuperação da totalidade do tempo perdido". "Como é que, em menos de 24 horas, o Governo satisfez os desejos de Marcelo Rebelo de Sousa? Foi uma decisão relâmpago”, comenta ainda, prevendo que, "se os professores numa primeira fase, aplaudiram a posição do Presidente da República, numa segunda fase irão demonstrar o seu descontentamento e outras formas de luta no arranque do ano lectivo".

"Fica tudo como dantes. Não me parece que isto resolva nada", reage também Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares. "É uma questão de semântica, não é mais nada", remata.

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