Ucrânia intensifica ataques na frente de Zaporijjia

Responsáveis norte-americanos acreditam que está em marcha uma nova fase da contra-ofensiva. A situação no terreno mantém-se incerta e os combates em vários pontos são ferozes e com lentos avanços.

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Tropa ucraniana enfrenta campos muito minados STRINGER/Reuters
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Os combates no Sul e Sueste da Ucrânia estão a aumentar de intensidade e as Forças Armadas ucranianas parecem ter conseguido superar algumas linhas defensivas russas nos últimos dias. O nevoeiro sobre o que realmente se passa no terreno é grande e as declarações de um lado e de outro contradizem-se, mas é ponto assente que Zaporijjia é a frente mais activa nesta fase da guerra.

O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, disse que os ucranianos lançaram um “ataque maciço” a sul de Orikhiv, na direcção da aldeia de Robotine, mas que as forças russas tinham conseguido travar o seu avanço. O próprio Presidente russo, Vladimir Putin, falou sobre o assunto à margem de uma cimeira com líderes políticos africanos, declarando que “as hostilidades aumentaram consideravelmente” na região de Zaporijjia, catalogando novamente a contra-ofensiva ucraniana como um falhanço.

Na quarta-feira à noite, na sua habitual mensagem em vídeo, o Presidente ucraniano referiu-se a “muito bons resultados na frente”, sem entr em detalhes. Um assessor do ministro da Defesa procurou deitar alguma água na fervura, afirmando à Reuters esta quinta-feira que “não há nada de novo” na frente e que os avanços a Sul são “lentos mas seguros”.

As palavras de Iurii Sak vêm na sequência de notícias em jornais norte-americanos, como o The New York Times e o Politico, que citam funcionários da Defesa dos Estados Unidos a garantir que a contra-ofensiva entrou numa nova fase. Segundo essas fontes, a Ucrânia enviou milhares de reforços para a zona de Orikhiv com o objectivo de ultrapassar as linhas defensivas russas, progredir até Tokmak e, daí, até Melitpol, já quase na costa do mar de Azov.

Os analistas do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), think tank americano, confirmam que houve “um ataque frontal intenso” junto a Robotine e algum progresso ucraniano. Com base em informações de fontes públicas, como vídeos e fotografias, dizem que “as forças ucranianas conseguiram penetrar e avançar por posições defensivas tacticamente desafiantes”, o que “será uma das coisas mais difíceis” de fazer na contra-ofensiva. E dão a entender que esta via pode ter algum sucesso para a Ucrânia: “As linhas defensivas mais a sul de Robotine estão provavelmente menos bem guarnecidas do que estas posições mais à frente.”

Alertam, no entanto, que a dimensão da operação pode não ser tão grande como Konashenkov quis fazer crer e criticam os responsáveis ocidentais que “estão inutilmente a criar expectativas de avanços ucranianos rápidos” e “a revelar possíveis vias de avanço ucraniano que talvez não devessem ter sido tornadas públicas”.

O editor de Defesa da Economist, Shashank Joshi, comentou no Twitter que não percebia se as revelações dos responsáveis americanos eram para levar a sério ou eram “um engodo”.

Batalhas a Leste

Nos cerca de dois meses que já leva a contra-ofensiva, as forças ucranianas não têm conseguido progredir grandemente no terreno, muito por causa das linhas defensivas que a Rússia preparou e fortificou ao longo de quase um ano.

Um dos maiores problemas que a Ucrânia enfrenta são os campos minados. Um comandante de tanques na frente de Zaporijjia disse à BBC que as forças russas puseram quatro linhas de minas antes das trincheiras em muitos locais e, além disso, com minas umas em cima das outras para destruir o equipamento de desminagem. “É muito difícil porque há demasiadas minas”, disse Maksim.

A porta-voz da região militar do Sul da Ucrânia, Natalia Humeniuk, pediu aos aliados ocidentais que mantenham o fornecimento de apoio militar ao país. “Nós temos necessidade de uma defesa antimíssil e aérea reforçada, poderosa, moderna e capaz de travar os mísseis que o inimigo usa contra nós”, disse à AFP, explicando que a Rússia está a “melhorar as suas tácticas e não se detém”.

Mas nem só a Sul se contam as novidades da guerra. Mais a Sudeste, na fronteira entre as regiões de Zaporijjia e Donetsk, os ucranianos conseguiram fazer alguns avanços e capturar prisioneiros russos na zona de Staromaiorske.

A Leste, junto a Bakhmut, os progressos da tropa foram em direcção a Andriivka e Klishchiivka. Nessa zona, “os combates são muito violentos” porque “o inimigo dispara intensivamente”, admitiu Hanna Maliar, vice-ministra da Defesa ucraniana.

Enquanto isso, as forças russas não estão apenas em operações defensivas e tentam progredir na região de Lugansk, entre Svatove, Kupiansk e Liman – tendo, aparentemente, conseguido conquistar pelo menos duas localidades. Ainda segundo Maliar, a sua tropa foi capaz de “repelir diversos ataques sem perder terreno”.

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