Diferencial entre juros nos empréstimos e depósitos em máximos de 20 anos
Em 2022, a diferença entre as taxas de juro para os empréstimos e para os depósitos atingiu 3,3 pontos percentuais, o valor mais alto desde 2003.
O diferencial entre as taxas de juro para os empréstimos e para os depósitos atingiu 3,3 pontos percentuais em 2022, o valor mais elevado desde 2003, segundo dados hoje divulgados pelo Banco de Portugal (BdP).
Segundo as séries longas do sector bancário português, hoje actualizadas com informação relativa a 2022, este diferencial representa um máximo desde 2003, “ano inicial das séries de taxas de juro hoje divulgadas”.
Este diferencial ocorreu num ano em que os resultados líquidos do sector aumentaram 1151 milhões de euros, variação sobretudo relacionada com o incremento de 1381 milhões de euros da margem financeira e com a diminuição de 591 milhões de euros dos custos com a constituição de imparidades e de provisões.
“O aumento da margem financeira ocorreu num contexto em que as taxas de juro dos empréstimos tiveram uma resposta mais rápida à subida dos juros nos mercados interbancários do que as taxas de juro dos depósitos”, acrescenta o BdP.
Em 2022, o sector bancário português apresentou uma rendibilidade correspondente a 0,7% do activo, tendo os resultados sido “os mais elevados desde 2007, ano anterior ao início da crise financeira internacional”.
Ainda no campo dos resultados, a percentagem de crédito em situação de incumprimento ou atraso no pagamento atingiu os 1,4%, “o valor mais baixo de toda a série disponibilizada”.
As séries longas do sector bancário português indicam ainda que a banca em Portugal terminou 2022 com 58.978 trabalhadores, mais 119 que em 2021, uma “subida contrária à tendência de redução de trabalhadores observada nos últimos anos”.
Esta subida é explicada pelo BdP pelo “aumento de trabalhadores de um banco que, apesar de localizado em Portugal, tem a actividade orientada para a prestação de serviços a uma escala global”.
Já o número de agências bancárias baixou de 4820 para 4626 em 2022.
“O número de balcões relacionados com a actividade doméstica tem vindo a diminuir, de forma ininterrupta, desde 2010, totalizando menos 3090 balcões (48%). Já o decréscimo nas agências relacionadas com a actividade internacional foi de 450 balcões (26%) em relação ao valor máximo observado em 2012”, analisa o banco central.
A análise do BdP destaca, igualmente, as alterações nos meios de pagamento, apontando que os efeitos da pandemia da covid-19 “não foram revertidos e terão acelerado uma maior adesão aos meios electrónicos”.
No final do ano, as transferências a crédito representavam 56,8%, seguindo-se operações baseadas em cartão (27,3%), cheques e letras (10,3%) e débitos directos (5,7%).
As transferências a crédito e as operações baseadas em cartão apresentaram subidas respectivas de 5,96 e 0,49 pontos percentuais em 2021 face a 2019, enquanto cheques e letras e débitos directos baixaram 6,01 e 0,32 pontos percentuais no mesmo período.
Dentro das operações baseadas em cartão, as compras representam 36,6%, seguindo-se outros (pagamentos de baixo valor e transferências imediatas efectuadas com cartão), com 25,3%, levantamentos e pagamentos ATM (23,2%) e ‘homebanking’ (14,9%).
Na comparação entre 2021 com 2019, a utilização do ‘homebanking’ manteve-se, enquanto o recurso a máquinas ATM baixou 4,5 pontos percentuais. Já a categoria outros cresceu 4,1 pontos percentuais e as compras 0,3 pontos percentuais.
As séries longas são uma base de dados sobre o sistema bancário que inclui informação histórica sobre indicadores financeiros, empréstimos a clientes, taxas de juro, recursos humanos, distribuição de agências e sistemas de pagamentos desde 1990.
As séries longas do sector bancário foram divulgadas, pela primeira vez, em 2019, com o intuito de dotar os analistas e os investigadores de informação integrada, consistente e escrutinada sobre o sector bancário em Portugal. A base de dados tem sido actualizada anualmente.