Hannah Wilkinson, a futebolista-artista

Marcou o golo do surpreendente triunfo da Nova Zelândia frente à Noruega no jogo de abertura do Mundial. Para além do futebol, a ex-avançada do Sporting também brilha na ilustração, guitarra e piano.

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Hannah Wilkinson, avançada da Nova Zelândia EPA/HOW HWEE YOUNG
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A Nova Zelândia esteve no primeiro Mundial feminino de futebol em 1991 e, depois, não falhou nenhum entre 2007 e 2019. Nas cinco primeiras participações, 15 jogos, zero vitórias, três empates e 12 derrotas, oito golos marcados e 34 sofridos. Mas a sexta participação das “silver ferns” em Mundiais não está a ir pelo mesmo caminho das cinco anteriores. Antes pelo contrário. No primeiro jogo do Mundial que está a organizar com a Austrália, a Nova Zelândia protagonizou a primeira surpresa, ao derrotar a Noruega, que já foi campeã mundial, por 1-0, golo de Hannah Wilkinson, que tem talento para muito mais do que apenas para jogar à bola.

Aliás, o Eden Park de Auckland, onde as neozelandesas ganharam o seu primeiro jogo em Mundiais perante uma entusiasta multidão de 42 mil pessoas, é o testemunho perfeito da arte de Wilkinson. No relvado, a avançada do Melbourne City foi rápida e mortal na forma como acompanhou o contra-ataque da Nova Zelândia e chegou a tempo de responder ao cruzamento perfeito de Jacqui Hand a partir da direita. Numa das paredes exteriores do recinto está um mural pintado por ela dedicado às heroínas desportivas do país no críquete, râguebi e futebol.

Com o seu golo histórico, Wilkinson já conquistou o direito de ter um mural só para ela. “Foi o melhor momento da minha vida”, diria Hannah Wilkinson após o jogo. “Absolutamente, o número um. Sem dúvida. É disto que são feitos os sonhos. Que bola! Foi fantástico, perfeito”, assumiu a avançada de 31 anos, que é a oitava mais internacional de sempre pela Nova Zelândia (113 jogos) e a quarta melhor marcadora (28 golos).

Hannah Wilkinson pode ganhar a vida a jogar futebol, mas a arte chegou primeiro. “Sou artista há mais tempo do que sou futebolista. Comecei a desenhar antes de começar a jogar. Um dos meus irmãos era artista, tal como a minha avó”, contou numa entrevista ao site Ensemble.

Nascida num país onde o râguebi é a prioridade desportiva, Hannah teve a sorte de ter uma família que gostava mais de bola redonda do que da oval. “Os meus irmãos jogavam e eu ia atrás deles. O meu pai também passou a ser treinador e tornou-se numa paixão de família”, revelou.

Mas, como muitas neozelandesas, Hannah teve de fazer a sua aprendizagem futebolística em outras latitudes. Em 2012, foi para o futebol universitário dos EUA e, quatro anos depois, foi jogar para a primeira Liga da Suécia. Em 2019, decidiu mudar-se para Portugal, assinando um contrato de uma temporada, e as coisas correram muito bem nos primeiros meses, 16 golos em 20 jogos. Mas a explosão da covid-19 nos primeiros meses de 2020 obrigou a um confinamento global e a neozelandesa, antes que fosse impedida de regressar ao seu país, rescindiu contrato com os “leões” e voltou à Nova Zelândia – não voltaria a Alvalade no pós-confinamento, prosseguindo a carreira na Suécia e na Alemanha antes de aterrar no Melbourne City, da Liga australiana.

A arte parece estar no mesmo patamar de interesse e dedicação. As suas redes sociais mostram as suas altas competências na música – toca piano, guitarra e canta, sendo que, quando chegou ao Sporting, apresentou-se a tocar uma versão acústica de “O mundo sabe que”. E nas artes, com uma segunda identidade, “Wilkscraft” – faz ilustração digital, murais, pinturas e desenhos para tatuagens. Como ela própria se descreve, “futebolista de dia, artista freelancer à noite”.

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