Costa garante que não desvaloriza corrupção e queixa-se de ser alvo de uma “mentira”

Primeiro-ministro escreve artigo no Observador para tentar contrariar “deturpação” das suas declarações aos jornalistas a propósito da demissão do secretário de Estado da Defesa.

Foto
António Costa nunca se referiu à demissão de Marco Capitão Ferreira Nuno Ferreira Santos
Ouça este artigo
00:00
02:47

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O primeiro-ministro, António Costa, assegura que não desvaloriza a corrupção e queixa-se de ter sido alvo da “construção de uma mentira a partir da deturpação de uma resposta” que deu aos jornalistas depois de questionado sobre a demissão do secretário de Estado da Defesa. O esclarecimento foi publicado no jornal Observador, uma semana depois de críticas à forma como reagiu à demissão de Marco Capitão Ferreira por suspeitas de corrupção.

O artigo começa de uma forma peremptória: “Não! Não desvalorizo a corrupção. E tenho-o demonstrado ao longo da minha vida política sem retórica e com acção”. António Costa justifica a sua declaração com a ideia de ter sido vítima de uma mentira. “Ao longo da semana fui assistindo à construção de uma mentira a partir de uma deturpação de uma resposta a uma pergunta…que não me foi feita”, escreveu, acrescentando a transcrição das suas declarações aos jornalistas perante as câmaras de televisão (e o respectivo link) antes de um Conselho de Ministros informal em Sintra, no passado sábado.

“Como poderão constatar, ninguém falou de corrupção. Nem os jornalistas quando me questionaram nem quando eu lhes respondi”, conclui. E sublinha: “Não desvalorizo a corrupção, mas também não desvalorizo a mentira”.

Nesse sábado, um dia depois da demissão do secretário de Estado da Defesa, os jornalistas questionaram de forma insistente o primeiro-ministro sobre mais esta saída do Governo, que aconteceu no próprio dia em que Marco Capitão Ferreira foi alvo de buscas domicliárias por suspeitas de corrupção. António Costa respondeu com a acção do executivo e com os desafios que tem enfrentado (pandemia, guerra), argumentando que esse é o “foco” dos portugueses.

Questionado sobre se o Governo iria reflectir sobre os casos que têm desgastado o executivo, o primeiro-ministro disse que “sem querer diminuir aquilo que preocupa muito os comentadores e o espaço político” o que vai ouvindo nas ruas sobre as preocupações dos portugueses “são temas bastante diferentes”. António Costa nunca se referiu à demissão do governante nem à escolha do seu substituto.

No artigo publicado este domingo, o primeiro-ministro não revela a quem se está a dirigir na acusação sobre a "construção de uma mentira". Mas, na semana passada, o comentador e conselheiro de Estado Luís Marques Mendes considerou, na SIC, que António Costa, com aquelas declarações, estava a passar “uma mensagem de que está a desvalorizar o combate à corrupção”. “É por coisas destas que se criou o monstro Sócrates. Estavam lá todos ao lado dele. António Costa, Santos Silva, eram todos ministros", apontou.

O Presidente da República também foi questionado sobre se as declarações do primeiro-ministro evidenciavam uma desvalorização do combate à corrupção. Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que terá sido um mal-entendido: “Conhecendo o primeiro-ministro há oito anos, nunca diria que ele teria dito que a transparência ou a corrupção não era importante para os portugueses. Certamente não o disse”.

Sugerir correcção
Ler 21 comentários