Uma farmácia em Vila Viçosa

O leitor Camilo Sequeira elogia o trabalho desenvolvido por António do Monte e aconselha a visita ao museu instalado na cidade alentejana.

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A farmácia de Vila Viçosa M. M. Camilo Sequeira
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Vila Viçosa é o magnífico palácio renascentista dos duques de Bragança, os dificilmente visitáveis panteões destes duques (fins-de-semana) e duquesas (domingos, com sorte), a magnificência mural da Igreja da Esperança que se visita porque um casal residente ali perto tem a chave e onde estão as sepulturas de duas duquesas, a primeira Gusmão, Leonor, assassinada pelo marido Jaime, e sua nora Izabel de Lencastre, o museu de arte sacra com um invulgar Cristo da Pobreza pintado e um Epilogus Totius Ordinis Seraphici onde está representado o Arcebispo de Lisboa D Michael de Castro.

É também a casa de Bento de Jesus Caraça, as memórias de Florbela Espanca e Henrique Pousão e o trabalho de um artífice calipolense, Apeles (Coelho), como o irmão de Florbela e afilhado do pai desta cujo trabalho pode ser apreciado no pequeno museu do estanho da cidade. Mas há ainda um notabilíssimo museu que não pode deixar de ser visto e apreciado na sua invulgar (e exemplar) dimensão social: a antiga Farmácia Monte, criada no início do século XX por António Vítor do Monte, farmacêutico autodidacta que, sem formação académica, obteve título da Universidade de Coimbra, após provas, com 18 valores. Pela sua boa prática durante quase uma dezena de anos, pelo seu estudo baseado numa grande curiosidade científica, por engenho reflexivo, por competência inventiva, por análise dos dados possíveis no seu tempo e seguramente pelo muito amor ao trabalho que deu origem a esta obra de altíssimo merecimento. Que belo título académico.

Num país que tem em Lisboa um Museu da Farmácia de nível internacional há, em Vila Viçosa, outro museu com o mesmo tema e o mesmo nível, apenas diferentes porque um é a criação de um grupo profissional e o outro é a criação de um só membro deste grupo. Este, durante a sua longa vida de trabalho, guardou e arrumou ordenadamente os produtos medicamentosos desse tempo nos seus contentores de vidro, de forma sistemática, bem distribuídos pelas salas dos diversos serviços que a farmácia disponibilizava e até guardou os artefactos decorativos de iluminação desse início de século.

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Criou um laboratório de análises do tempo e uma verdadeira linha de produção de comprimidos, pastas, xaropes e injectáveis com dimensões adaptadas ao espaço que tinha, com introdução das novidades científicas que iam sendo conhecidas, e que até fez construir por baixo da casa uma cisterna para recolha de água da chuva, considerada como a mais adequada à produção dos agentes terapêuticos.

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Todos sabemos que a grandeza de uma terra depende de poetisas, pintores, matemáticos e da nobreza que nela nasceram e a colocam nos livros de História. Mas também se faz com os muitos cidadãos que, menos recordados, vivem vidas fazendo bem aos outros criando valores nobilíssimos em nome da ciência, com imaginação, criatividade, competência inovadora, abertura ao progresso e dedicação. António do Monte é autor de uma obra cuja designação como de arte criativa não é menor que a daqueles tidos habitualmente como grandes.

M. M. Camilo Sequeira

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