O meu implacável desejo de rever Belver
No Alentejo, uma vila de encantos: “O castelo no alto, as casas familiares ao lado e o rio brilhante a banhá-las, tudo se junta para mostrar a beleza de Belver”, escreve a leitora Laura Richter.
Sempre passei os meus Verões em Belver, uma vila cujo nome se justifica orgulhosamente. Acima do Tejo, integra o concelho de Gavião, nos limites do distrito de Portalegre. A acolhedora casa que lá temos é o meu refúgio quando a grande cidade fica demasiado barulhenta e preciso do calmo campo.
A ela recorri, mais uma vez, numa quente manhã de Verão. Fui guiada pela saudade. Misturada com um sentimento de tédio e a simples vontade de viajar, criou um implacável desejo de rever Belver. Sabia quem iria alinhar nesta súbita viagem: a minha avó. Tem um coração aventureiro e, como eu, um grande amor por Belver. Dizer que a viagem não foi bem organizada já seria um eufemismo. Não planeámos quanto tempo iríamos ficar, pusemos o essencial num saco e, com a breve explicação “Vamos a Belver", despedimo-nos de todos e partimos.
A viagem de carro foi, como é sempre, cheia de lindas paisagens. Os campos de pasto foram a nossa vista até chegarmos a Belver. A primeira visão da vila não desaponta ninguém. O magnífico castelo no alto, as casas familiares ao seu lado e o rio brilhante a banhá-las, tudo se junta para mostrar a beleza de Belver.
Pequeno como é o lugar, todos aí se conhecem. Alguns juntam-se perto da igreja, onde contam histórias que já antes contaram. Outros ficam à porta de casa a observar a pouca acção que sucede. Cumprimentamos todos e adoramos o momento e onde estamos. Inspiramos o sossego nesta mudança de cenário.
Decidimos aproveitar o rio e vamos para o Alamal, a praia fluvial que tem uma deslumbrante vista do castelo. O sol do meio-dia faz o rio brilhar debaixo dele, uma suave brisa passa por nós na esplanada do maravilhoso restaurante do Alamal. Aqui está uma anamnese de felicidade. E este sentimento estende-se ao resto da semana.
Acordamos todos os dias com o cantar dos galos ou com a buzina da venda de pão fresco. Aos fins-de-semana, a feirinha traz mais vida à vila, com as cores do artesanato e os sabores das frutas da época.
Aproveitamos o descanso, mas, por já conhecermos Belver, visitamos outros lugares por perto, uns que se tornaram já tradição e outros novos, mais longe, para satisfazer o desejo de nos depararmos com algo curioso que nos tivesse falhado até aí.
Finalmente, prontas para voltar, despedimo-nos de Belver com um enorme carinho. Saber que podemos voltar a qualquer momento apazigua a saudade que se volta a formar. Belver esperaria sereno e imóvel até que este sentimento nos trouxesse de volta.
Laura Richter (texto e fotos)