“Ofender a Assembleia? Não vejo porquê!” Adão e Silva mantém críticas à CPI

Ministro da Cultura não se retracta, como pediu presidente da comissão de inquérito à TAP. Alexandra Leitão e Isabel Moreira revêem-se nas palavras de Lacerda Sales.

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Pedro Adão e Silva mantém as críticas à comissão de inquérito à TAP LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, mantém tudo o que disse sobre os trabalhos da comissão de inquérito (CPI) à TAP numa entrevista e que já foi considerado uma “falta de respeito” pelo presidente dessa comissão. “Ofender a Assembleia? Não vejo porquê!”, disse, respondendo sobre o pedido para que se retractasse dirigido pelo presidente da CPI, e acrescentando que até pode “elaborar mais sobre a leitura do que foi esta comissão de inquérito”.

Em declarações, esta segunda-feira de manhã, aos jornalistas, Pedro Adão e Silva repetiu as críticas a alguns deputados, sem especificar: “Não compreendo o tom inquisitório. Imagino o que seria se os magistrados passassem a ter estes comportamentos.” Mas foi mais longe, considerando que “há uma reflexão a fazer sobre a relação entre estes trabalhos na comissão de inquérito e depois a forma como se transformam e traduzem num longo comentário televisivo como se estivéssemos num reality show”, numa crítica não só aos deputados, mas também à cobertura mediática das comissões de inquérito.

“Acho surpreendente que ninguém se inquiete com apreensões de telemóveis numa comissão parlamentar de inquérito ou com perguntas como ‘com quem é que se está a trocar mensagens?’ ou com inquirições noite dentro. Nada disto contribuiu para o bom funcionamento das instituições democráticas”, acrescentou.

Perante a insistência dos jornalistas sobre as críticas do presidente da CPI, respondeu: “O Governo responde perante a Assembleia, mas não está escrito em nenhum lado que os ministros devem suspender o seu espírito crítico em relação àquilo que é o funcionamento do Parlamento”, afirmou Adão e Silva, que justificou as suas reflexões críticas com a sua preocupação com o funcionamento das instituições democráticas: “Reflexão que acredito ser partilhada por muitos portugueses.”

Deputadas do PS contra ministro

Alexandra Leitão e Isabel Moreira, duas das mais reputadas deputadas do PS, já vieram a público apoiar o seu colega de bancada António Lacerda Sales, quando considerou “uma falta de respeito” as declarações do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, sobre o trabalho de alguns parlamentares na comissão de inquérito à gestão política da TAP.

“Foram declarações infelizes para um ministro da República”, que “não faria se não tivesse maioria absoluta”, considerou Alexandra Leitão, no programa da TSF e CNN Portugal O Princípio da Incerteza, lembrando que “muitas das circunstâncias mais complexas que aconteceram na comissão foram proporcionadas por eventos que aconteceram no quadro do próprio Governo”.

Numa entrevista à TSF e ao Jornal de Notícias, divulgada no domingo, Pedro Adão e Silva considerou ter havido deputados a agir como “procuradores do cinema americano da série B da década de 80” na comissão de inquérito à TAP.

Para Alexandra Leitão, essas declarações “contribuíram muito pouco para a saúde das instituições democráticas” e por isso diz rever-se “inteiramente nas afirmações” de Lacerda Sales, que considerou a metáfora do ministro uma “falta de respeito” e uma “caracterização muito injusta” do trabalho dos deputados, pedindo que se retracte.

Com menos palavras, mas de forma incisiva, também a deputada Isabel Moreira veio colocar-se ao lado de Lacerda Sales e, assim, condenar também as declarações de Pedro Adão e Silva. Numa publicação no Twitter, Isabel Moreira publica uma notícia sobre as críticas do presidente da comissão de inquérito ao ministro da Cultura e remata: “Muito bem.”

Já o coordenador do PS na comissão de inquérito, Bruno Aragão, preferiu a neutralidade. “Não tenho nenhum comentário a fazer às diferentes e legítimas análises que se vão fazendo”, transmitiu à RTP, rematando: “Assegurada a sua conclusão, teremos oportunidade de fazer a avaliação dos trabalhos da comissão e de todo o ambiente que a envolveu.”

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