Carlos e Camila coroados numa Escócia dividida
A cerimónia, que reconhece Carlos e Camila como rei e rainha da Escócia, serve para lembrar que as coroas escocesa e inglesa apenas se uniram em 1603.
Ambiente de festa, com uma grande parada, espectáculo aéreo e um serviço de acção de graças, num dia simultaneamente marcado pelos protestos numa Escócia onde os sentimentos independentistas têm relevante expressão. Carlos e Camila serão coroados rei e rainha da Escócia, nesta quarta-feira, num evento que alude ao facto histórico de a Inglaterra e a Escócia terem tido monarcas diferentes até à união das coroas em 1603.
Depois da opulenta coroação, a 6 de Maio, que reuniu mais de dois mil convidados, entre os quais cerca de cem líderes mundiais e que teve uma audiência média de 18,8 milhões de espectadores, de acordo com os dados fornecidos pelo Conselho de Investigação de Audiências dos organismos de radiodifusão britânicos, espera-se um momento tão cerimonial quanto o evento de há dois meses, mas menos popular.
Ainda antes do arranque da cerimónia, as jóias da coroa são transportadas do Castelo de Edimburgo para St Giles, num cortejo pela Royal Mile, a partir das 13h15 (hora local, a mesma que em Lisboa), na qual participarão cerca de cem personalidades escocesas e mais de 700 membros da Marinha Real, do Exército Britânico e da Força Aérea Real.
Pelas 14h05, Carlos e Camila farão o trajecto entre o Palácio de Holyroodhouse e o Kirk. Na procissão, estarão presentes três gaiteiros da antiga escola do rei Carlos, sendo expectável que os dois sejam acompanhados pelo herdeiro William e a sua mulher, Kate.
Durante a cerimónia, Carlos receberá as jóias da Escócia: coroa (feita para Jaime V, que a usou pela primeira vez, em 1540, na coroação da rainha Maria de Guise), ceptro e a nova Espada Elizabeth, cujo nome é uma homenagem à sua mãe e que foi idealizada para substituir a que foi oferecida pelo Papa Júlio, em 1507, a Tiago IV da Escócia.
“As Honras da Escócia têm um imenso significado histórico, tendo estado presentes em muitos eventos cerimoniais importantes nos últimos 500 anos”, enalteceu o primeiro-ministro escocês, Humza Yousaf, citado pela Reuters, que frisou o facto de a Espada Elizabeth, “concebida e trabalhada com cuidado por alguns dos melhores artesãos escoceses”, se tratar de “um tributo adequado à falecida rainha, numa altura em que a Escócia se prepara para receber os novos rei e rainha”.
A Pedra do Destino, o símbolo histórico da monarquia e da nação escocesa, será transferida para a catedral para a cerimónia, para a qual o rei encomendou cinco novas peças musicais. Uma salva de 21 tiros de canhão será disparada do Castelo de Edimburgo, às 15h20, antes de o cortejo real regressar ao Palácio de Holyroodhouse.
Num dia que se antevê soalheiro, a única sombra à coroação poderá estar nos protestos antimonárquicos. Desde cedo que um grupo de manifestantes do grupo Republic se reuniu em frente à Catedral de St Giles e está prevista uma manifestação, em frente a Holyrood, organizada pelo grupo escocês Our Republic, que contará com a presença dos deputados Patrick Harvie e Lorna Slater, do Partido Verde Escocês.
Os ânimos, porém, poderão ser refreados pelo facto de o primeiro-ministro escocês, Humza Yousaf, republicano, participar na cerimónia em St Giles.