Aprilia Tuono 660: uma naked desportiva em ponto de rebuçado
A Tuono 660 da Aprilia não é a estrela da companhia, mas é talvez a mais equilibrada na relação entre potência, usabilidade e diversão.
Bonita, com potência capaz de ser usada pelo comum dos mortais, relativamente confortável e não muito cara. A Tuono 660 está no mercado há dois anos e é talvez uma das motos mais interessantes da gama da Aprilia, por um lado, porque incorpora o carácter desportivo da marca e, por outro, porque foi concebida para poder ser usada numa utilização diária, sem grandes limitações ou caprichos.
Já lá vai o tempo em que as motos italianas eram apenas brinquedos com manias de rico, cujas idas à oficina, por uma qualquer razão obscura, podia resultar numa grande despesa. Esta percepção ainda não desapareceu — há mitos que são difíceis de desmontar —, mas a realidade é que as motos são cada vez mais bem construídas e, por isso, mais idênticas entre si no que toca à fiabilidade. A Aprilia é uma dessas marcas; a outra mais óbvia é, claro está, a Ducati.
Contudo, nos últimos anos, a empresa italiana, fundada no final da Segunda Guerra Mundial, tem vindo a apagar essa imagem de menina mimada, nomeadamente desde a aquisição pela Piaggio em 2004. Depois, os bons resultados na competição, designadamente no MotoGP — onde corre agora o português Miguel Oliveira —, reforçam o carácter competitivo e espelham a pesquisa e desenvolvimento inerentes de alta tecnologia, com o qual todo o grupo (que inclui a Moto Guzzi, a Piaggio e a Vespa) beneficia.
Considerandos históricos à parte, as Aprilia continuam lindas. A gama inclui scooters e modelos todo-o-terreno e aventura, mas são motos eminentemente desportivas que têm na RSV4 o canhão com 1100 cc e 217 cv, o que de mais aproximado a uma moto de pista é possível comprar. Mais abaixo, mas média cilindrada, encontramos a RS 660, cujo motor bicilíndrico serve de base para a Tuono 660, modelo à venda desde 2021 que tivemos agora oportunidade de testar.
As Tuono são então as naked da Aprilia, que conseguiu manter o aspecto geral das irmãs desportivas, tornando-as mais utilizáveis no dia-a-dia, onde faz pouco ou nenhum sentido ter uma desportiva de raiz — motos desenhadas para a pista são, regra geral, muito pouco práticas para andar na estrada, seja pela posição de condução muito inclinada, seja pela falta de conforto da suspensão ou pelo desempenho agressivo do motor.
Dito isto, não ficámos com certezas de que a Tuono 660 seja uma moto de pista que se pode usar na estrada, ou ao contrário. E os modos de condução estão lá para fundamentar as dúvidas. São cinco: três para estrada e dois para pista, com mostrador de voltas, que não experimentámos. Mas não foi preciso. Com “apenas” 95 cv, que chegam às 10.500 rpm, esta Tuono dispara com enorme facilidade, também graças ao baixo peso — 183 quilos em ordem de marcha.
E não se pense que é preciso andar sempre em altas para garantir desempenho elevado, pelo contrário. Com 67 Nm de binário máximo, disponível às 8500 rpm, este motor permite arranques rápidos dos semáforos e sem dar muitos nas vistas (já agora: este bicilíndrico soa muito bem!).
O mais relevante aqui, parece-nos, é precisamente o factor usabilidade. Ou seja, a Tuono 660 é potente, mas não assusta. O que significa que um condutor com habilidade mediana (que é o caso deste vosso ensaísta) consegue tirar partido da moto sem se sentir ultrapassado por ela, como acontece com as máquinas muito potentes, que exigem perícia de piloto. E, apesar de exigir uma posição ligeiramente inclinada para a frente e com o pousa pés elevado, não se torna desconfortável.
O mesmo não se pode dizer em viagens mais longas e que metam auto-estrada, com os pulsos e as costas a acusarem cansaço ao fim de algum tempo; a total ausência de protecção aerodinâmica contribui para essa fadiga. O cruise control lá permite dar uma folga, mas se tiver de transportar uma mochila às costas, o caso piora. No que diz respeito ao lugar do passageiro, para pouco mais deverá servir que para uma ida ao café.
Fácil e divertida
A Tuono 660 é muito fácil de conduzir e muito divertida. Curva muito bem, como seria de esperar, e tem uma suspensão rija: o relevo da estrada sente-se, mas é apanágio desportivo. Apesar disso, é confortável para o tipo de moto que é. Destacamos também a admissão (acelerador) e a caixa, são muito precisos. Contudo, sentimos a falta de mudanças rápidas (quick shift), um opcional que pode ser instalado por 220 euros. O depósito tem 15 litros de capacidade e o consumo anunciado é de 4,9 l/100 km, precisamente o que fizemos no nosso teste em percurso misto.
Um sublinhado para a terceira relação (mudança), porque é tão longa que é possível andar por estrada durante horas (!) sempre com ela engrenada: suporta, sem engasgos ou fadiga, velocidades entre os 40 e os 130 km/h (e vai mais além). E, quando é para parar, isso também se faz com rapidez — e apenas com a força de dois dedos — graças ao poderoso sistema da Brembo, que inclui tubagens em malha de aço.
A moto ensaiada está à venda em Portugal por 11.550 euros, preço chave na mão, um valor demasiado próximo da versão Tuono 660 Factory (11.850 euros): motor com 100cv, quick shift, suspensão traseira melhorada e controlador electrónico IMU (sistema ABS em curva).
A não ser que o condutor seja um purista que dispense mordomias, depois desta experiência, concluímos que são 300 euros a mais que vale bem a pena gastar.