Santiago de Compostela, verde que te quero verde

A leitora Maria Goreti Catorze não foi a pé, foi a voar: aterrou em Santiago e deixou-se encantar pela cidade e região. “Aproveitemos a beleza da Galiza, verde, tão verde que é impossível igualá-la”.

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"Vejo estas agradáveis caminhadas até lá chegar como pouco sacrificiais" MARIA GORETI CATORZE
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Santiago de Compostela é conhecida desde a Idade Média pelas famosas peregrinações ao santo que foi apóstolo de Cristo. É caso para dizer que todos os caminhos vão dar a Santiago, tantos e tão geograficamente variados são os percursos que ali desembocam. A devoção ou religiosidade desses tempos não se compara com a deste em que vivemos. Mas Santiago de Compostela não caiu no esquecimento, pelo contrário. Tornou-se moda fazer caminhadas a pé por percursos sinalizados. Há dezenas de livros e mapas sobre os caminhos de Santiago (mas não só).

Creio que esta tendência moderna para caminhar a pé na natureza visa contrariar o sedentarismo trazido pelo automóvel e outros veículos motorizados. A palavra «percurso» veio substituir a vereda, o carreiro, o corta-mato e certamente outras tantas que poderiam constar de mais um "dicionário afectivo das palavras perdidas" (já temos o do António Mega Ferreira…). Isto para não falar dos inefáveis passadiços, pontes suspensas e baloiços com vistas para a dita paisagem natural que toda a gente quer experimentar.

Mas voltemos a Santiago de Compostela, a capital da Galiza. Vejo estas agradáveis caminhadas até lá chegar como pouco sacrificiais. São sobretudo uma distracção ou um desporto. Contrariem-me os peregrinos se quiserem já que eu fui de avião. Creio que a peregrinação mais difícil ocorre quando paramos a meditar no sofrimento próprio e alheio. Pensar nisso é uma peregrinação interior. Não é difícil caminhar até ao túmulo do apóstolo, mas é difícil ser tão santo como ele foi. 

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Mas deixemos a filosofia da santidade por agora e aproveitemos a beleza da Galiza, verde, tão verde que é impossível igualá-la. Mais ainda na primavera que é quando o verde das folhas é mais claro e luminoso. Claro que chuvisca pela manhã, mas as tardes são soalheiras e belas. Os campos e montes que rodeiam Santiago de Compostela (palavra derivada de campo de estrelas) são atravessados por regatos de água limpa, pequenos açudes naturais e aquele som inconfundível da água saltitando por cima das pedras. É um contraste tremendo com os campos amarelos, terrosos ou verdes-escuros da restante Espanha. Depois há os monumentos: a beleza imponente da fachada principal da catedral sobre a praça do Obradoiro (em imponência faz-me lembrar a cidade do México), os restantes edifícios que preenchem o quadrilátero, e os múltiplos conventos, igrejas e mosteiros que povoam a cidade e arredores.

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Mas também velhos hospitais, hospedarias e universidades. É uma cidade de pedra escura (o granito) e ruas estreitas, talvez um pouco opressiva e austera, diferente da restante Espanha que apesar de árida tem uma atmosfera mais desanuviada. Não se esqueçam de reparar nas conchas esculpidas na pedra e nas cruzes em forma de espada, símbolos do santo que inspirou Carlos Magno nas suas batalhas.  E nas marquises envidraçadas com quadradinhos de caixilhos brancos que se vêem em quase todos os prédios da cidade em vez das tradicionais gelosias da Espanha encalorada.

Os nossos vizinhos espanhóis têm sorte em possuir este recanto fresco aparentado com Portugal.

Maria Goreti Catorze (texto e fotos)

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