Greve deixa centros de saúde sem enfermeiros ou com “muito poucos”

Segundo dia da greve marcada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses ficou também marcado por uma concentração em frente ao Ministério da Saúde.

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Concentração de enfermeiros em frente ao Ministério da Saúde, convocada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, perante a "ausência de resposta do Ministério da Saúde” a um pedido de reunião LUSA/MANUEL ALMEIDA

Centros de saúde sem enfermeiros ou com "muito poucos" e blocos operatórios a responder apenas a urgências é o resultado do segundo dia de greve destes profissionais, relatou esta sexta-feira o sindicato, que aponta o "enorme descontentamento" da classe.

"Os vários indicadores apontam que hoje [sexta-feira] há um elevadíssimo número de enfermeiros em greve nos cuidados de saúde primários", avançou o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), adiantando que a paralisação também está a afectar as consultas externas nos hospitais e "os blocos operatórios, na realidade, estão apenas a responder às urgências".

Quanto aos níveis da adesão à greve nacional, José Carlos Martins estimou que "a adesão é superior" ao primeiro dia de greve, na quarta-feira, em que rondou os 60%, mas explicou não ter números precisos porque os dirigentes, delegados e activistas participaram na concentração em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, e por isso não recolheram dados.

Em conferência de imprensa durante o protesto, que reuniu algumas dezenas de enfermeiros oriundos de várias regiões do país, o dirigente do SEP afirmou que a adesão à greve "traduz bem o enorme descontentamento dos enfermeiros".

"E, por isso, estamos mais uma vez aqui hoje a exigir no essencial duas coisas: a valorização do trabalho dos enfermeiros e a resolução de injustiças e discriminações" disse, dando como exemplo os hospitais de Vila Franca de Xira e do Hospital Tâmega e Sousa, cujos enfermeiros estiveram representados na concentração por duas delegações.

No Hospital Vila Franca de Xira, por falta de adesão ao acordo colectivo de trabalho (ACT) que o SEP já assinou, "os enfermeiros ainda hoje não conseguem progredir na carreira, ainda hoje têm 40 horas", salientou José Carlos Martins, considerando também inadmissível o "volume de trabalho extraordinário assinalável".

"Há uma enorme carência de enfermeiros lá e no resto do país e temos um conjunto de colegas que foram despedidos precisamente porque o Ministério da Saúde não autoriza a sua contratação, portanto, queremos a valorização através da reposição da paridade da carreira de enfermagem com as carreiras de técnico superior e outros profissionais de saúde", defendeu.

Outras reivindicações do SEP passam pela aposentação mais cedo, como mecanismo de compensação pelo risco e penosidade da profissão, e a contratação de mais profissionais, mas, sustentou, "isto só é possível negociando com o Ministério da Saúde".

Para o líder do SEP, é inadmissível que desde o dia 12 de Maio o Ministério da Saúde não tenha ainda apresentado propostas de solução nem agendado qualquer reunião e avisou que, caso este cenário se mantenha, "possivelmente o sindicato vai continuar a decidir o agendamento de formas de luta".

Questionado sobre a posição do SEP em relação à intenção manifestada por outros três sindicatos de enfermeiros de convocarem uma greve geral, prolongada no tempo, caso o Ministério da Saúde não convoque reuniões negociais até 4 de Julho, José Carlos Martins afirmou que a direcção do SEP vai reunir, mas ressalvou que não farão greves por tempo indeterminado. "Julgamos que essa não é uma via ajustada, mas a direcção irá decidir o que irá fazer na fase seguinte", rematou.

"Anos trabalhados não podem ser roubados"

Durante a manhã, várias dezenas de enfermeiros manifestaram-se em frente ao Ministério da Saúde. "A saúde é um direito, sem ela nada feito", "Anos trabalhados não podem ser roubados", "A luta continua nos serviços e na rua" foram alguma das palavras de ordem entoadas pelos profissionais.

Na cabeça da concentração, os enfermeiros tinham uma faixa com a inscrição "SNS com falta de enfermeiros! Incompreensível. Governo/Ministério das Finanças despede-os", enquanto outros seguravam cartazes com frases como "SNS precisa de enfermeiros! Ministério das Finanças manda despedir" e "CH [centro hospitalar] Tâmega e Sousa precisa de enfermeiros: Governo 'põe' 31 no desemprego".

Durante o protesto, foi aprovada uma moção em que o SEP afirma que "é inadmissível e intolerável que o Ministério da Saúde continue a não dar as necessárias e justas respostas aos problemas dos enfermeiros, a não apresentar propostas de solução e a não agendar reunião com o Sindicato dos Enfermeiros" e que foi entregue no ministério.