Morreu Luís Aleluia, o “menino Tonecas”
Actor tinha 63 anos e protagonizou a série da RTP As Lições do Tonecas.
O actor Luís Aleluia morreu esta sexta-feira, aos 63 anos. A notícia, entretanto confirmada pela sua mulher, a produtora Zita Favretto, começou por circular a partir de um post publicado pelo humorista Herman José na sua página na rede social Facebook.
"Soube da notícia agora. O querido Luís Aleluia foi distribuir gargalhadas para outra dimensão. Paz à sua alma. Era um homem bom, e um excelente comediante", frisou Herman José na sua publicação. Desconhece-se até agora a causa do óbito.
Foi também nas redes sociais que Favretto deixou uma nota de despedia: “Luizinho, estou sem chão!!!”, escreveu a mulher do actor, garantindo em seguida que vai tentar dar aos filhos do casal, João e José, o que ambos sempre desejaram para eles, transformando-os em bons seres humanos, tendo o pai como exemplo. “Amo-te e Amar-te-ei sempre! Havemos de nos encontrar um dia.”
Com uma carreira de décadas, em que a televisão e o teatro de revista assumem preponderância, Luís Aleluia tornou-se um actor bem conhecido do grande público, estimado pelos colegas de profissão que com ele se cruzaram.
Nascido em Setúbal em 1960, o actor viu a sua infância e adolescência associada à Casa do Gaiato, instituição em que subiu ao palco pela primeira vez, aos dez anos, e que só viria a abandonar aos 16.
Ainda muito jovem andou por vários grupos de teatro amador até se profissionalizar, a convite do actor Carlos César, na Companhia de Teatro de Animação de Setúbal, cidade que viria a trocar por Lisboa. É, no entanto, graças à sua prestação televisiva em séries de televisão e em programas de entretenimento que a maioria dos portugueses o conhece, em particular devido a duas produções da RTP: As Lições do Tonecas (1996-2000), que protagonizava na pele de um aluno muito cábula mas com grande imaginação e capacidade reivindicativa, tendo o actor Morais e Castro por professor, e Bem-Vindos a Beirais (2013), onde vestia a pele de um dos elementos da GNR desta vila inventada e pacata.
Na televisão, Luís Aleluia passou também por Duarte e Companhia, Os Malucos do Riso, A Mulher do Senhor Ministro, Praça da Alegria, e, mais recentemente, por Pôr do Sol.
Também autor, encenador e produtor de espectáculos, o actor estreou-se no Parque Mayer com Há!... Mas são verdes, revista que tinha no elenco Ana Zanatti, Camacho Costa e Vítor Norte. Esta forma de teatro popular assentava-lhe como uma luva e chamaria a atenção para as suas qualidades de comédia em títulos como Quem me acaba o resto! e O Bem tramado!.
Colaborando em projectos com actores como Nicolau Breyner, Ruy de Carvalho, José Raposo, João Perry, Rui Mendes, Diogo Infante Lia Gama e Fernanda Borsatti, entre muitos outros, integrou o elenco de telenovelas como Na Paz dos Anjos e Filha do Mar, e fez teatro com Filipe La Féria em peças produzidas para o programa Comédias de Ouro, da RTP.
Tendo cursado Ciências da Comunicação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Luís Aleluia teve também um papel activo na defesa do teatro e dos seus profissionais, tanto na Sociedade Portuguesa de Autores como na Casa do Artista.
Em 2018, numa entrevista a Daniel Oliveira no programa Alta definição, da Sic, o actor lembrou a sua infância difícil, marcada pela morte do pai, de que soube por um telegrama, e pela violência doméstica às mãos de um padrasto alcoólico, recordou como foi importante a sua passagem pela Casa do Artista, para onde entrou ainda criança, e de como foi decisivo o regresso ao "colo" da mãe, aos 16 anos, falando nela como a mulher que mais o amou.
"Não sou amargo perante os outros, mas sou amargo por dentro. Sou uma pessoa triste, ao contrário do que as pessoas pensam", reconheceu nesta entrevista em que falou também do prazer de subir ao palco, na gratidão que tem pelo público que enche uma sala, na forma como a sua história fez dele o actor que era. "Posso ser feliz, agora trago dentro de mim uma mágoa", assumiu, respondendo assim ao desafio de relevar o que diria se lhe pedissem para escrever uma frase para ser lida dentro de 50 anos: "Fiz o que pude."
Marcelo lembra "talento e capacidade de conquistar o público"
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já lamentou a morte de Luís Aleluia, recordando o seu "talento, empatia e capacidade de conquistar o público de várias idades".
"Guardamos na nossa memória o que foi de facto o seu talento, a sua empatia, a sua capacidade de conquistar publico, de várias idades e ao longo de muito tempo", sublinhou o chefe de Estado no Porto, à margem dos festejos da noite de São João.
Já o ministro da Cultura reagiu afirmando que a morte do actor "deixa o teatro português mais pobre e também mais triste". Pedro Adão e Silva lembrou que Luís Aleluia "foi um actor que, ao longo de uma carreira de quatro décadas, acompanhou os portugueses de todas as gerações".
"Além da sua vida nos palcos e ecrãs, deu também o melhor de si aos outros, como revela o empenho que colocava na sua actividade na Casa do Artista", acrescentou, numa publicação na rede social Twitter.
O ministro manifestou ainda o seu pesar à família, amigos e a todos quantos com ele trabalharam.