Busca de migrantes do barco naufragado continua além das 72 horas, mas sem esperança

Guarda-costeira grega prolongou este sábado as buscas de sobreviventes no mesmo dia em que a ONG Open Arms salvou 117 pessoas noutro barco em dificuldades. ONG pedem mudança da política da UE.

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Todos os 104 sobreviventes do naufrágio são homens STELIOS MISINAS/Reuters
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A guarda costeira grega defende a sua actuação naquele que pode ter sido o segundo pior naufrágio de migrantes no mar Mediterrâneo, quando uma velha traineira carregada de pessoas do Paquistão, Egipto, Palestina e Síria se afundou na madrugada de quarta-feira. Diz que abordou a embarcação, ofereceu ajuda, mas que foi recebida com evasivas e acabou por assistir de longe ao desenlace trágico.

A mesma guarda costeira decidiu prolongar este sábado as buscas por sobreviventes, mesmo que a esperança seja pouca, tendo em conta que foram encontrados 104 sobreviventes e 79 corpos nas primeiras 24 horas mas não há rasto da outra meia centena que estaria a bordo. De acordo com a estimativa da Organização Internacional das Migrações (OIM), a velha traineira transportaria cerca de 750 pessoas, muitas delas crianças. Entre os sobreviventes não há nenhuma mulher nem criança.

As Nações Unidas (ONU) pediram à União Europeia que tome medidas com vista a alterar a sua política em relação aos migrantes que tentam chegar ao continente cruzando o Mediterrâneo.

“Ficou claro que a actual abordagem ao Mediterrâneo é impraticável”, disse Federico Soda, actual director do departamento de emergências da OIM, agência da ONU. “Os Estados precisam de se juntar e resolver as lacunas na busca e salvamento pró-activos, desembarque rápido e rotas regulares seguras”, acrescentou.

Perante mais uma perda de vidas humanas devido à incapacidade da UE em permitir que pessoas em busca de protecção cheguem à Europa de forma segura, organizações não-governamentais como Save the Children, Amnistia Internacional, o Conselho Dinamarquês para os Refugiados, Hias Europe, Human Rights Watch, Comité Internacional de Resgate, Médicos Sem Fronteiras, Missing Children Europe, Oxfam e SOS Aldeias de Crianças, lembraram em comunicado que as “autoridades de vários Estados-membros foram informadas da embarcação em dificuldade muitas horas antes do seu naufrágio e até mesmo um avião da Frontex estava presente no local”.

Por isso, exigiram “uma investigação rigorosa sobre as mortes, especialmente o papel dos Estados-membros da UE e o envolvimento da Frontex”, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira. “Instamos a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, a finalmente tomar uma posição clara em relação ao cemitério a céu aberto nas fronteiras terrestres e marítimas da Europa e a responsabilizar os Estados-membros.”

Tal como a velha traineira que afundou na quarta-feira, também o barco de madeira sobrelotado com que a ONG Open Arms se cruzou este sábado, tendo salvado os 117 migrantes (incluindo um bebé de três dias) a bordo, vinha de um porto líbio. Os migrantes da traineira não tiveram tanta sorte, apesar de se saber desde terça-feira de manhã que tinham ficado sem água, depois da activista de direitos humanos Nawal Soufi ter recebido um telefonema de uma mulher que seguia a bordo.

Por isso, as referidas organizações pedem à UE que pare de “atribuir a culpa dos naufrágios aos traficantes e pare de procurar soluções no desmantelamento das redes criminosas”, lavando as mãos quando as tragédias acontecem.

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