Pedro Nuno Santos: o regresso em campanha pela geringonça

A ideia da morte política de Pedro Nuno Santos talvez tenha ficado arrumada depois desta audição à TAP.

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Pedro Nuno Santos LUSA/MIGUEL A. LOPES
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Às vezes o pior dia da vida de alguém transforma-se subitamente – mas a prazo – no melhor dia.

A interrogação sobre se Pedro Nuno Santos ainda estaria em condições de se candidatar à liderança do PS depois dos lamentáveis acontecimentos em torno da indemnização de Alexandra Reis e do esquecimento sobre o ok à indemnização da ex-gestora, atravessou todos os espíritos socialistas (incluindo eventualmente o do próprio).

Mas a ideia da morte política de Pedro Nuno Santos talvez tenha ficado arrumada depois desta audição à TAP em que, apesar de ser impossível ao ex-ministro explicar como é que se esqueceu de ter concordado com a indemnização a Alexandra Reis, tem a seu favor o facto de, mesmo antes disso ser conhecido, ter-se demitido.

Já na semana passada, na Comissão de Economia, Pedro Nuno Santos tinha marcado pontos, nomeadamente em relação ao seu sucessor João Galamba, como aqui escreveu David Pontes.

Nesta quinta-feira, Pedro Nuno Santos deu-se ao luxo de se demarcar subtilmente de António Costa, que disse que lhe pediria para demitir Hugo Mendes por causa do email em que o secretário de Estado defendeu junto da antiga CEO da TAP a troca de um voo do Presidente da República.

Pedro Nuno Santos, ficou a perceber-se, não demitiria o secretário de Estado a pedido do primeiro-ministro ou então, é a lógica, demitir-se-ia ao mesmo tempo. Recusou responder abertamente à pergunta sobre o que faria, mas a resposta que deu foi mais ou menos clara: “O secretário de Estado Hugo Mendes é muito mais do que aquele email. Aquele email não o define. Enquanto ministro, faço uma avaliação sobre o todo, e não sobre o email”. Apesar de toda a subtileza que não era, de todo, característica do antigo ministro, Pedro Nuno Santos não só apontou algumas diferenças com Costa mas também com o seu sucessor João Galamba. Quando lhe perguntam se Costa “gosta mais de João Galamba do que dele”, por não ter aceitado a demissão do actual ministro das Infraestruturas, puxa pela sua superioridade moral: “A minha demissão não depende de terceiros. É uma decisão que depende de mim exclusivamente”.

E se a chefe de gabinete de Galamba tentou demonstrar na Comissão de Inquérito que o gabinete de Pedro Nuno era uma estrutura desorganizada – opinião imediatamente contrariada pela ex-chefe de gabinete do ex-ministro – Pedro Nuno Santos não só secundou aquela explicação como deixou uma farpa muito clara: no seu tempo o plano de reestruturação da TAP não estava só no computador de Frederico Pinheiro, como agora chegou a ser alegado, na sequência da cena absurda que meteu o SIS a tocar à porta do ex-adjunto (que Pedro Nuno elogiou profundamente, mas sem querer tomar partido sobre versões a que “não assistiu”) para recuperar o computador do Ministério.

Se as longas horas da audição serviram a Pedro Nuno Santos para pôr em marcha a sua campanha interna – amortecida pelo seu silêncio de seis meses – houve um momento delirante. Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, foi um “inquiridor” aguerrido e sem contemplações. A dada altura, Pedro Nuno Santos relembra-lhe os tempos da geringonça com saudades e, percebeu-se, empenho futuro: “Isto [a geringonça] aconteceu! Foi bom enquanto durou e acho que correu bem. Correu bem para todos. Para o país e para o povo português. A memória que os portugueses guardam desse tempo é uma memória boa”.

Às vezes morre-se em política, outras vezes não. Pedro Nuno Santos não ficou com o capital político intacto, mas tem depósitos a prazo no banco do PS e a render mais do que os juros da banca comercial.

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