SEF sinalizou 47 vítimas de tráfico de pessoas em academia de futebol

Foram constituídos dois arguidos na operação, um dos quais era o presidente da Assembleia Geral da Liga Portugal, Mário Costa, que renunciou esta quarta-feira ao cargo.

Foto
Buscas do SEF decorreram na segunda-feira Rui Gaudêncio
Ouça este artigo
--:--
--:--

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) sinalizou 47 vítimas de tráfico de pessoas na academia de futebol Bsports, em Riba d'Ave, Vila Nova de Famalicão,​ onde realizou buscas na passada segunda-feira, no âmbito da chamada Operação El Dourado.

Isso mesmo informou o SEF através de um comunicado divulgado pouco antes das 20h.

Destas 47 vítimas, indica a nota, 36 são menores e nove jovens adultos."Todos foram colocados sob protecção do Estado português. Os menores foram acolhidos em instituições da Segurança Social, por indicação da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens e do Tribunal de Família e Menores de Vila Nova de Famalicão", lê-se no comunicado.

Aí acrescenta-se que, ao todo, estariam na academia 85 estrangeiros, mas nem todos foram considerados vítimas de tráfico de seres humanos.

O SEF revela que durante a operação foram cumpridos cinco mandados de busca, constituídos arguidos dois cidadãos portugueses e cinco sociedades. Um deles foi Mário Costa, então presidente da Assembleia Geral da Liga Portugal, que renunciou esta quarta-feira ao cargo. "No decurso das buscas foram apreendidos documentos, nomeadamente passaportes e cartões de residência que não estavam na posse dos seus titulares", realça o serviço que controla os migrantes.

O SEF confirma assim uma informação já avançada pelo PÚBLICO, que apurou igualmente que os alunos estariam impedidos de sair das instalações da Bsports.

Há uma discrepância no número de menores vítimas de tráfico avançado pelo SEF e pelo Ministério Público. Ao início da tarde o PÚBLICO noticiou que foram 33 os menores retirados por ordem judicial da Bsports e colocados em vários centros de acolhimento da zona Norte.

O número foi confirmado umas horas mais tarde por um comunicado publicado no site da Procuradoria-Geral Regional do Porto. Como se entendeu que se tratavam de menores em risco foi-lhes aplicada uma medida de promoção e protecção, enquanto não regressam aos países de origem. Antes disso, contudo, as vítimas devem ser ouvidas por um juiz, para que possam prestar declarações para memória futura. Muitos estariam cá sem autorização formal dos pais, parte dos quais já estará a caminho de Portugal para vir buscar os filhos. Quanto aos jovens maiores apenas se dava conta que foram encaminhados para "unidades de abrigo".

A informação de que alguns jovens optaram por permanecer na Bsports foi confirmada ao PÚBLICO pela directora da cooperativa de ensino Didáxis, vizinha e senhoria da Bsports.

"Somos uma instituição de ensino com alguma dimensão que tinha contratos de associação com o Estado. Quando estes terminaram tivemos que rentabilizar as nossas instalações e houve interesse da Bsports em nos alugar um bloco de três andares. Eles são nossos inquilinos", explica a directora da Didáxis, Isabel Matos.

A responsável dá conta que o seu interlocutor na Bsports foi sempre Mário Costa, cuja casa foi alvo de buscas na passada segunda-feira.

A cantina da Didáxis assegura ainda o almoço aos alunos da Bsports que também podem usar as instalações do refeitório ao jantar (neste caso, sem as refeições incluídas).

Isabel Matos conta que se cruzava diariamente com os rapazes da Bsports e garante que nunca se apercebeu de nada anómalo. "Sempre vi por parte do staff muita preocupação com os alunos. Os miúdos eram muito simpáticos e interagiam com os nossos", afirma a directora da Didáxis.

O PÚBLICO tem tentado contactar a Bsports nos últimos dias, quer através de um telemóvel existente na sua página de Facebook quer via email, mas tal têm-se revelado impossível, porque o telefone está desligado e o email não funciona. Conseguimos contactar dois funcionários da instituição, mas nenhum esteve disponível para falar ou indicar outras formas de contacto.

Este inquérito terá sido aberto em 2020, na sequência de uma participação feita por uma entidade consular, no Médio Oriente. Apesar de poder haver jovens oriundos desta parte do mundo, a maioria das vítimas seria proveniente da América do Sul e alguns de África.


Notícia foi actualizada com novas informações

Sugerir correcção
Ler 12 comentários