BSports sob suspeita: menores retidos em Riba d’Ave apesar da pressão dos pais

RTP desvendou alguns dos detalhes da investigação, que incluiu pagamentos mensais avultados, ausência de liberdade durante a noite e ameaças de suicídio.

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Momento de um jogo da BSports, equipada de azul BSports
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Menores trancados durante a noite, documentos retidos, ameaças de recurso às autoridades por parte dos pais dos atletas. Esta é, segundo a RTP, uma das partes da história em torno da BSports Academy, empresa encabeçada por Mário Costa, presidente da Assembleia Geral da Liga Portugal, que já foi constituído arguido por suspeita do crime de tráfico de seres humanos.

De acordo com o que adiantou a estação pública de televisão, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) já resgatou nada menos do que 114 jovens da BSports, uma academia de futebol sediada em Riba d'Ave. Muitos deles, ainda menores de idade, foram encaminhados para casas de acolhimento e serão ainda ouvidos pelas autoridades, antes de regressarem às famílias e aos países de origem.

Estamos a falar de aspirantes a futebolistas, entre os 13 e os 22 anos, de diferentes paragens, desde a Colômbia à Guiné, que viram frustradas as expectativas que tinham quando se mudaram para Portugal. Para que isso acontecesse, detalhou a RTP, os pais dos atletas pagavam uma mensalidade à BSports, que podia variar entre os 600 e os 2000 euros. Um valor que se tornou incomportável para algumas famílias.

Quando isso aconteceu, começaram as tentativas de contacto dos pais (por mail e telefone, via Whatsapp), a exigirem que os responsáveis pela academia deixassem os atletas regressar ao país. Mas a verdade é que não tinham em sua posse a documentação de identificação (cartão de cidadão ou passaporte) e eram controlados permanentemente pelo sistema de vigilância do edifício de três andares onde pernoitavam.

Ainda assim, segundo a RTP, dois jovens colombianos conseguiram mesmo recuperar os documentos e abandonar o país. Mas o cenário de desespero também ficou patente numa mensagem escrita por três jogadores guineenses, que ameaçavam tirar a própria vida e, assim, estragar "o negócio" da BSports.

O projecto da BSports, apadrinhado pelo Governo português (através do Ministério do Trabalho e da Segurança Social) e por figuras públicas como Miguel Frasquilho ou Francis Obikwelu, prometia ser um espaço de formação desportiva e pedagógica. Os alunos começaram por ter aulas teóricas durante parte do dia e trabalho de campo no tempo restante, mas, adianta a RTP, nos últimos meses já não havia professores disponíveis para o contexto de sala de aula.

“Nunca tive conhecimento de quaisquer práticas potencialmente menos lícitas que tenham sido cometidas no âmbito da BSports Academy”, reagiu entretanto Miguel Frasquilho, em comunicado, adiantando: "Naturalmente, condeno, e não me revejo, em quaisquer actividades potencialmente menos lícitas que tenham sido cometidas”.

Presente em 30 países, desde o México à Costa do Marfim, através de agentes de ligação locais, a BSports tem um campo de recrutamento alargado e desenvolve acções de captação para seleccionar talentos que depois são convencidos a viajar para Portugal, a troco do pagamento de uma quantia que deverá ser assegurada pela família mensalmente.

Mário Costa, o principal rosto do projecto, já fez saber que acredita não ter cometido nenhum ilícito e a Liga Portugal, liderada por Pedro Proença, informou na segunda-feira que ia limitar-se a acompanhar o caso. Mas os contornos da história levaram mesmo ao agendamento de uma reunião de urgência, para esta quarta-feira, para discutir quais as medidas a tomar, tendo em conta que o arguido desempenha um cargo de relevo no organismo.

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