Polícias destacados para JMJ têm de pagar dormida e refeições, alerta sindicato
Ministro disse que polícias vão receber ajudas de custo a 100%. Sindicato Nacional da Polícia alerta que são 43,39 euros por dia e que depois das despesas não devem sobrar mais do que 10 euros.
O ministro da Administração Interna, Luís Carneiro, garantiu, na quinta-feira, na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades Garantias, que os polícias que vão trabalhar na segurança da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) vão ter redução de horários, remuneração pelo trabalho excepcional e pagamento das ajudas de custo a 100%.
Mas o Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol) veio hoje alertar para o valor em causa e para o facto de os polícias destacados, muitos deles fora de Lisboa, terem de pagar do seu bolso a dormida e refeições, por um período de seis dias.
Segundo o sindicato, durante esses seis dias os polícias terão direito às ditas ajudas de custo a 100%, que serão de 43,39 euros por dia. Sendo que nesses dias, por imposições legais, uma vez que estão a receber ajudas de custo, não lhes serão pagos os seis euros de subsídio de refeição.
Acresce que, também de acordo com o Sinapol, foi anunciado que seriam ainda disponibilizados locais de alojamento para os polícias, mas o que o MAI não disse é que os polícias terão de pagar do seu bolso esse alojamento. “Fala-se numa média diária de 10 a 15 euros”, contou ao PÚBLICO fonte do mesmo sindicato, sublinhando que os valores ainda não foram divulgados de forma oficial.
Além disso, refere o Sinapol, os polícias vão ter de suportar do seu bolso “três das quatro tradicionais refeições diárias (pequeno almoço, almoço, lanche e jantar), uma vez que a comissão organizadora da JMJ, em princípio apenas irá oferecer uma refeição gratuita por dia.
Perante estas contas, o Sinapol questiona o Ministro da Administração Interna: “Considera justo e adequado que um polícia na realidade receba cerca de 10 euros por dia limpos de ajudas de custo, para trabalhar na JMJ vários dias afastado da sua casa, da sua família e sem direito a estar de férias? “
O mesmo sindicato aproveita esta oportunidade para relembrar que “há dois anos que alerta a tutela para os baixos valores das ajudas de custo, uma vez que desde o ano de 2013 não sofrem qualquer actualização, estando actualmente o valor em causa desfasado da realidade económica e financeira do país”.
E deixa um recado a Luís Carneiro: “Senhor ministro, o patriotismo só por si não mete comida na mesa a ninguém e ser patriota não é sinónimo de ser escravo!”
Também o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP) reagiu às medidas anunciadas pelo ministro da Administração Interna no Parlamento, considerando-as "uma falácia" e "uma provocação aos polícias".
Paulo Santos, que falava aos jornalistas em frente à Escola Prática da Polícia, em Torres Novas, no final de uma reunião da direcção da ASPP, afirmou que José Luís Carneiro "usa as palavras numa narrativa que engana os senhores jornalistas, os senhores deputados e está a enganar os polícias", mas "não consegue enganar a ASPP".
Segundo Paulo Santos, a redução do horário das oito para as seis horas "contraria completamente aquilo que o senhor director nacional disse, que esta redução impunha-se para que os polícias não tivessem oportunidade para se deslocar para se alimentar" e destina-se a "empurrar os polícias para depois prestarem outras seis horas em serviço remunerado".
Antes de o ministro ter anunciado as medidas para a JMJ, a ASPP já tinha revelado que ia proceder à realização de iniciativas "inovadoras e bastante criativas durante, antes e depois" da JMJ, tanto em Lisboa, como junto dos comandos e das dioceses que vão organizar eventos, como forma de demonstrar a "insatisfação" dos profissionais da PSP.
Aliás, segundo a Agência Lusa, ainda na comissão parlamentar o ministro foi questionado por vários deputados sobre os protestos que os elementos das forças e serviços de segurança têm previstos para a semana da JMJ, nomeadamente dos chefes da PSP, tendo José Luís Carneiro respondido que os polícias têm o direito à manifestação e que este deve ser respeitado.
Porém, o ministro revelou que, nos próximos dias, a secretária de Estado da Administração Interna vai voltar a reunir-se com os sindicatos da PSP e associações socioprofissionais da GNR, estando em cima da mesa os serviços gratificados e as questões relacionadas com a segurança, higiene e saúde no trabalho.