Efacec vendida à alemã Mutares, que derrotou portuguesas Visabeira e Sodecia

Reprivatização da Efacec foi anunciada esta quarta-feira pelo Governo, quase três anos depois da nacionalização. Pelo caminho ficaram três outros candidatos.

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Ao longo dos últimos três anos, a Efacec acumulou elevados prejuízos Nelson Garrido
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Depois de três anos nas mãos do Estado, a Efacec vai ser vendida à alemã Mutares, anunciou esta quarta-feira o Governo. Pelo caminho ficaram os fundos Oaktree e o Oxy Capital, bem como o agrupamento nacional da Visabeira-Sodecia.

Os contornos precisos da venda, incluindo o plano de recapitalização da empresa, não foram revelados.

O conjunto inicial de interessados naquela que foi a segunda tentativa para reprivatizar a empresa, depois do falhanço das negociações finais com o grupo português DST, incluía ainda a Mota-Engil, que acabou por desistir.

Em causa está a reprivatização de 71,73% do capital da empresa, detidos até 2020 pela empresária Isabel dos Santos, que deixou de conseguir gerir ou vender a empresa na sequência de processos judiciais avançados pela justiça angolana, que incluíram o arresto de bens e contas bancárias, no âmbito das investigações de um consórcio de jornalistas internacionais que ficaram conhecidas por Luanda Leaks.

A escolha da Mutares foi aprovada em Conselho de Ministros (CM) electrónico, realizado esta quarta-feira, e anunciada pelo ministro da Economia, António Costa Silva, que destacou a dimensão da holding industrial alemã, cotada na bolsa de Frankfurt.

O facto de se tratar de um grupo especializado na compra de empresas em dificuldades não preocupa o titular da pasta da Economia, que destacou a experiência na recuperação e valorização das empresas adquiridas, numa lógica "de médio e longo prazo". E deu mesmo o exemplo das 75 operações feitas nos últimos anos "com elevado sucesso".

“A proposta que a Mutares apresentou dá-nos grande conforto e convicção sobre o futuro da Efacec”, afirmou o ministro, que disse esperar que o processo de venda possa estar fechado em dois meses. Para isso é ainda necessário a aprovação da venda pela DG-Com, a autoridade da concorrência europeia, e pelo menos um perdão parcial de créditos pelos credores, revelou o governante, sem avançar detalhes sobre esta última condição. Entre os credores estão vários bancos nacionais, incluindo a Caixa Geral de Depósitos.

Outro dos credores da empresa é próprio Estado, que, segundo as declarações de Costa Silva na conferência de imprensa realizada após o CM, até ao momento injectou directamente 132 milhões de euros na Efacec, além dos 85 milhões de euros em garantias, o que dá um total de 217 milhões de euros.

Sobre este dinheiro injectado na empresa nos últimos três anos, o governante manifestou-se optimista na recuperação "de grande parte, se não a totalidade, do investimento que [o Estado] fez”.

Mas a forma de recuperação não ficou totalmente clara. O ministro referiu que os alemães ficarão com 100% do capital a privatizar, mas também que haverá “um mecanismo de partilha de valor inovador” para permitir ao Estado rever parte ou a totalidade do que investiu.

A possibilidade de escolha dos alemães já tinha sido antecipada pelo Eco e Jornal de Negócios, tendo sido agora confirmada. Em segundo lugar, avançou o ministro, ficou outro fundo de investimento estrangeiro, o Oaktree. O consórcio Visabeira-Sodecia, que recolhia a preferência de parte dos trabalhadores, por serem empresas industriais nacionais, ficou pelo caminho, o que terá ficado a dever-se ao objectivo de partilha de negócios, ideia que Costa Silva sempre afastou.

Sem revelar detalhes da proposta da Mutares para a Efacec, nomeadamente ao nível da recapitalização da empresa, que se encontra praticamente em gestão corrente há três anos, o ministro da Economia garantiu, no entanto, que o vencedor assegura “o futuro do grande projecto industrial e tecnológico” nacional, compromete-se na preservação da força de trabalho e minimiza os encargos para o Estado.

Ao longo dos últimos três anos, a empresa que este ano completa 75 anos de história, e que emprega mais de dois mil trabalhadores, acumulou elevados prejuízos, agravando significativamente a sua situação financeira.

O relatório e contas de 2022 dá conta de um prejuízo consolidado de 52,8 milhões de euros, a somar aos 183,9 milhões de euros negativos de 2021. O capital próprio ficou negativo em 52,1 milhões de euros, no final do ano passado, encontrando-se, assim, em falência técnica.

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