Na “cidade milagre” de Nagi nasceu uma solução para a crise demográfica do Japão

A cidade de apenas 5700 habitantes adopta, desde 2002, medidas de incentivo à natalidade, sem esquecer a importância dos mais velhos. A independência de outras cidades assim obrigou.

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Em 2022, nasceram 799.728 bebés no Japão, o registo mais baixo desde 1899 Rui Oliveira
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A cidade de Nagi, no Japão, que atrai a atenção dos turistas pelas paisagens montanhosas e rurais, é falada há vários anos pela estratégia implementada para tentar alcançar a natalidade positiva e, assim, contrariar a crise demográfica que se agudiza no país.

Entre 2018 e 2021, a média de natalidade em Nagi avançou de 1,4 para 2,68, mais que o dobro da média nacional, que é de aproximadamente 1,3.

Uma vez que as estimativas nacionais apontam para o decréscimo populacional de 125 milhões para 70 milhões até 2070, os resultados conseguidos em Nagi, localidade no nordeste de Okayama que contabiliza cerca de 5700 residentes, levaram o diário japonês The Mainichi a designar a cidade como um "milagre".

Mas, na verdade, o caminho é planeado desde 2002, quando os residentes de Nagi votaram, em referendo, contra a fusão com outras cidades. Para justificar a autonomia, foi necessário implementar medidas para convidar os casais a aumentar o agregado familiar, através de incentivos financeiros.

Além disso, o envolvimento de todos os residentes foi importante para garantir que esta ideia de rejuvenescer a comunidade seria benéfica a todos. Ainda assim, e à semelhança de muitas localidades rurais, Nagi ainda regista um saldo natural negativo.

“Adoramos o som das vozes das crianças”

Aberto desde 2007, o infantário Nagi Child Home permite que os casais, por dois euros à hora (300 ienes), deixem as crianças ao cuidado de outras mães, funcionários e voluntários mais velhos, seja para tratar de afazeres ou praticar exercício físico.

Entrevistado pelo The Guardian, o responsável pelo departamento de planeamento e informação de Nagi, Takamasa Mathushita, explicou que a iniciativa pretende incrementar o equilíbrio entre “a vida familiar e profissional”, eliminando preocupações quanto às finanças familiares e aos cuidados a ter quando as crianças adoecem, por exemplo. Além disso, acrescentou, o projecto assume uma "abordagem holística", envolvendo os residentes mais velhos.

E este infantário cresce pela entreajuda dos casais, que se revezam no cuidado das crianças. Uma questão de organização, garantiu Takamasa Mathushita: “[Os pais] Podem vir por uma ou duas horas, de modo a encaixar na sua agenda”, sublinhou.

Incentivados pelos benefícios, que incluem o pagamento de 100.000 ienes (666 euros) por cada recém-nascido, os casais planeiam ter, pelo menos, três filhos.

“Nas cidades japonesas, as crianças são vistas como barulhentas e disruptivas, motivo pelo qual é proibido jogar futebol ou basebol nos parques públicos. Mas aqui adoramos o som das vozes das crianças”, ressalvou Takamasa Mathushita.

O Ocidente de olhos em Nagi

Há duas décadas que a cidade de Nagi prioriza também o bem-estar dos menores garantindo cuidados médicos gratuitos até aos 18 anos, e material escolar até aos 15 anos, quando os mais novos devem completar a escolaridade obrigatória. Durante o ensino secundário, os adolescentes que escolherem estudar fora da cidade pagam apenas parte dos custos das viagens.

O raro caso de Nagi motivou as recentes visitas de representantes dos governos da Coreia do Sul, EUA e Países Baixos, como relatou o The Mainichi. Por sua vez, o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, que em Fevereiro visitou a cidade, planeia, em breve, avançar com um fundo para combater a crise demográfica no país.

De acordo com a ministra da Saúde japonesa, em 2022 nasceram 799.728 bebés, o registo mais baixo desde 1899, de quando data o primeiro registo.

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