Boris Johnson tenta puxar Donald Trump para o lado pró-Ucrânia
Antigo chefe do Governo britânico reuniu-se com o ex-Presidente norte-americano na última semana, durante uma visita aos EUA.
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O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson, um dos maiores apoiantes da Ucrânia na guerra contra a invasão russa, reuniu-se com Donald Trump durante uma visita aos Estados Unidos, na última semana, para tentar convencer o ex-Presidente norte-americano a abandonar a sua posição de aparente neutralidade em relação ao conflito.
O encontro, que não estava na agenda oficial de Johnson e que, segundo os media norte-americanos e britânicos, terá acontecido na noite de quinta-feira, serviu para “discutir a situação na Ucrânia e a importância vital de uma vitória ucraniana”, disse um porta-voz do ex-primeiro-ministro britânico citado pelo The Guardian.
Johnson, que foi forçado a demitir-se da chefia do Governo do Reino Unido em Julho de 2022, na sequência de uma série de escândalos pessoais e políticos, liderou o apoio europeu ao esforço de guerra da Ucrânia desde o primeiro momento.
Por outro lado, Trump tem criticado o forte apoio financeiro do Presidente dos EUA, Joe Biden, e de uma maioria no Congresso norte-americano ao Exército da Ucrânia e ao Presidente do país, Volodymyr Zelensky.
No último ano, os EUA destinaram mais de 46 mil milhões de dólares (43 mil milhões de euros) do seu Orçamento ao envio de armas e outro tipo de equipamento para a Ucrânia, e o Reino Unido contribuiu com mais de sete mil milhões de dólares (6,5 mil milhões de euros). Em valores absolutos, os EUA e o Reino Unido lideram a lista dos países que têm apoiado a Ucrânia financeiramente.
No entanto, o ex-Presidente dos EUA e candidato à eleição presidencial de 2024 já disse, em várias ocasiões, que considera excessivo o apoio dado pela Casa Branca à Ucrânia.
No início de Maio, numa entrevista concedida ao político britânico Nigel Farage, ex-líder do Partido do Brexit (renomeado Reform UK), Trump disse que seria capaz de “pôr fim à guerra [na Ucrânia] em 24 horas”; e, poucos dias depois, durante uma sessão de campanha em directo no canal CNN, recusou-se a dizer se deseja que a Ucrânia derrote a Rússia.
“Eu quero que eles parem de morrer, russos e ucranianos”, disse Trump. “E vou conseguir fazer isso em 24 horas.”
China e Taiwan
O encontro de Johnson e Trump deu-se durante uma viagem do ex-primeiro-ministro britânico aos Estados Unidos, onde participou numa conferência sobre inovação, em Las Vegas — e pela qual recebeu uma quantia não especificada, mas que estará nas centenas de milhares de dólares, segundo os media norte-americanos e britânicos.
Em paralelo, Johnson foi convidado por um grupo de pressão pró-ucraniano para se encontrar com políticos do Partido Republicano fora do círculo de Washington D.C. e das decisões no Congresso dos EUA.
“Queríamos levar os argumentos a favor do apoio à Ucrânia para fora de Washington, onde vivemos todos numa bolha”, disse ao site Politico Alina Polyakova, directora do instituto Center for European Policy Analysis, com sede na capital dos EUA. “O nosso objectivo é esclarecer as dúvidas que existem em sítios como o Texas, no coração do país.”
Em Dallas, no Texas, o ex-primeiro-ministro britânico conversou com um grupo de congressistas republicanos, no início da semana. “Peço-vos que se mantenham ao lado da Ucrânia”, disse Johnson, segundo o relato do Politico. “Vai compensar a longo prazo.”
Confrontado com acusações de corrupção no Governo ucraniano — que servem de argumento central à oposição de muitos republicanos da direita radical ao apoio financeiro que tem sido dado à Ucrânia —, Johnson disse que o investimento será recompensado no futuro em termos de segurança global.
“Uma vitória de Putin seria terrível nas suas ramificações para o Sudeste Asiático, para o mar do Sul da China, para todas as áreas de potencial conflito entre as grandes potências nas próximas décadas”, disse Johnson.
“Do ponto de vista de Pequim, eles estão a olhar para a guerra e estão a pensar que a reacção da Ucrânia aumentou dramaticamente a ambiguidade estratégica e os riscos de uma eventual investida contra Taiwan.”