Montenegro diz que Costa “está nervoso” ao agitar “papão da direita”
Líder do PSD exige explicações do primeiro-ministro sobre actuação do SIS, sugerindo que podem ter sido “instrumentalizados” ou terem sido “obedientes” ao Governo.
O líder do PSD considera que o primeiro-ministro está a “ignorar a realidade” descrita por Cavaco Silva no sábado passado e que denota “nervosismo” ao agitar o “papão da direita”. Luís Montenegro falava aos jornalistas no Funchal, onde decorrem as jornadas parlamentares do PSD.
“Quer à direita, quer à esquerda do PS a opinião é unânime: o PS e o primeiro-ministro vivem noutra realidade. Quando António Costa vem erguer esse papão da direita significa que está mesmo nervoso e com medo do que lhe está a acontecer, a falta de confiança no seu Governo”, afirmou, ao final da tarde desta segunda-feira, em declarações transmitidas pela RTP3.
"Ignorar a realidade é actuar no domínio do fanatismo político, do estado de negação", disse o líder social-democrata, que atribuiu a reacção do chefe de Governo à intervenção do ex-Presidente da República como um reflexo dos conselhos dos publicitários. “São as tais frases feitas, que foram ditas ao ouvido do líder do PS para tentar desviar a atenção. Carregam nas palavras para fugir ao conteúdo”, afirmou, depois de questionado sobre as acusações por parte de socialistas de que Cavaco Silva usou linguagem “anti-democrática”.
Luís Montenegro, que foi muito elogiado por Cavaco Silva, lembrou que o antigo líder social-democrata “não é uma figura qualquer”, que foi “dez anos primeiro-ministro e dez anos Presidente da República” e que “não está na refrega do dia-a-dia”. E deixou uma pergunta: "Onde é que Cavaco Silva errou no diagnóstico que fez de Portugal?”.
O líder do PSD foi também questionado sobre as declarações de António Costa em defesa da secretária-geral do SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa), Graça Mira Gomes, a propósito da actuação dos Serviços de Informações de Segurança (SIS) na recuperação do computador do ex-assessor do Ministério das Infra-Estruturas.
Neste ponto, Montenegro mostrou não estar satisfeito com as explicações dadas hoje por António Costa. “Considero que este assunto é grave. Faltam explicações ao país quer por parte dos responsáveis dos serviços e de quem tem a tutela, dos responsáveis políticos, que é do primeiro-ministro”, afirmou, exigindo “as respostas” a que Costa “tem fugido”.
“Não basta dizer que correu tudo bem, já toda a gente já viu que correu mal”, disse, lançando a suspeita de que os serviços foram instrumentalizados ou que agiram em obediência ao Governo.
“Temos de saber quem é que chamou os serviços, porque é que chamou e se há uma ordem, se há alguém a caucionar a acção dos serviços do ponto de vista do Governo. Se há, então foram instrumentalizados, se não há, se os serviços actuaram por vontade própria, então estão numa esfera de dependência, de obediência diria mesmo aos membros do Governo, que tem de ser explicada”, afirmou sem fechar a porta a uma comissão parlamentar de inquérito sobre o assunto.