As amizades masculinas costumam ser representadas nos media e na cultura pop como relativamente superficiais, competitivas e sem grande profundidade emocional.
Dito isto, não é inteiramente surpreendente que algumas pessoas pensem que os homens têm problemas em fazer amizades. Embora as mulheres tirem esta conclusão com maior facilidade, a ideia existe na sociedade como um todo.
Somos levados a acreditar que os homens têm amizades com pouca qualidade ou que não têm amizades suficientes. Dependem das mulheres para ter intimidade, afastando-se de ligações profundas e reais com outras pessoas.
Tudo isto supostamente aumenta o risco de solidão, disfunção e, até mesmo, de suicídio. Mas será que conta a história toda?
Apesar de sabermos que homens sentem dificuldades – alguns até admitem não ter amizades de todo – essa representação conta uma história selectiva e errónea das relações que os homens constroem e mantêm.
É verdade que costumam relacionar-se com os outros de maneira diferente das mulheres. Podem falar menos sobre as suas emoções, por exemplo. Mas se prestarmos atenção à forma como se expressam e criam ligações entre si podemos entender a essência das amizades masculinas, raramente reconhecida e frequentemente rejeitada.
As mulheres podem ser mais capazes de expressar emoções, mas nem todas as suas conversas são úteis. Há amizades femininas em que falta empatia e compreensão ou o apoio esperado durante fases mais complicadas.
O foco na relativa falta de expressão verbal nas amizades masculinas para indicar que não são próximas o suficiente limita o entendimento sobre o que é intimidade. Nesse caso, não somos capazes de compreender as formas menos óbvias como os homens demonstram proximidade, respondendo a certos códigos ou até mesmo de forma silenciosa.
O humor como exemplo
Desafia-se a noção de que o humor serve apenas para erguer barreiras: na verdade, o humor, como se vê com o uso de alcunhas provocadoras, pode promover o sentimento de proximidade. O humor no exército, por exemplo, é usado para expressar as dificuldades do trabalho e serve como um filtro para a agressividade, ao mesmo que cria um sentimento de união.
O facto de as conversas entre homens poderem ser entendidas como ofensivas para quem está de fora é, de certa forma, irónico. Significa, na verdade, uma proximidade emocional só se estabelece entre bons amigos. Como um participante de um estudo sobre insultos masculinos resumiu: “Talvez acabem por ficar próximos o suficiente e aí começam a criticar-se mutuamente […] Acho que se as pessoas os ouvirem a falar assim, sabem definitivamente que são bons companheiros.”
Resistir à masculinidade
Com regras tácitas que dizem que os homens devem ser “machos” e não demonstrar fraqueza, não é de estranhar que sintam dificuldades a abrir-se emocionalmente.
Mas interpretar amizades masculinas como vazias é assumir que homens são incapazes de negociar as regras da masculinidade. A verdade é que estes regimes são impostos aos homens e eles fazem o melhor que conseguem para participar de acordo com as regras estabelecidas ou subverter a masculinidade, se tiverem condições para isso.
Vários homens resistem à masculinidade competitiva de maneira a demonstrar a sua vulnerabilidade e criar ligações profundas. Ainda assim, alguns (especialmente aqueles que são mais “tradicionais”) enterram as suas emoções de forma tão profunda que pode ser difícil entenderem ou nomearem o que sentem. Os sentimentos podem parecer um território longínquo e assustador, e existe a tentação de usar álcool e drogas para lidar com eles.
Para alguns homens, abrir-se e demonstrar vulnerabilidade não é uma opção ou só é possível em determinados contextos. Sair para beber é um deles. “Os homens só vão falar [de sentimentos] quando há cerveja em cima da mesa, quando baixam a guarda”, como reparou um participante num outro estudo sobre a comunicação em amizades masculinas.
O risco de desabafar pode levar a situações de rejeição e ridicularização. Mas a intimidade emocional pode acontecer até mesmo nas situações mais improváveis como em despedidas de solteiro, em que as expressões de carinho são comuns (por exemplo, durante os discursos) e não são menosprezadas.
A ascensão do bromance
Apesar das representações simplistas, as amizades masculinas são diversas e estão sempre a desenvolver-se. A histeria em volta da homossexualidade foi caindo ao longo das décadas, e, de maneira geral, ser descrito como "gay" já não é um motivo de pânico para os jovens que expressam a sua sensibilidade ou procuram intimidade com outros homens, seja ela sexual ou não.
Nenhum fenómeno ilustra isso melhor que a ascensão do bromance. O termo surgiu nos anos 1990 no mundo do skate, numa altura em que homens heterossexuais começaram a partilhar quartos de hotel durante digressões sem qualquer problema. A ideia desta forte ligação entre homens tem sido cada vez mais aceite na cultura pop, com filmes como I Love You, Man.
Os bromances podem oferecer um nível alto de intimidade e apoio — alguns jovens referem como estas amizades estão noutro nível no que diz respeito a confiança, expressão de vulnerabilidade e afecto físico.
"Abraço-o, beijo-o e digo-lhe que o amo", disse um participante de um estudo, referindo-se a uma relação com um amigo. Outro disse que um bromance envolve “alguém com quem possas partilhar segredos, sofrimento e amor, sem, no entanto, existir atracção sexual”. Um terceiro partilhou que “não importa o assunto, ele está sempre lá para ouvir”.
Melhorar as amizades masculinas
A investigação demonstra que os homens mais novos estão a envolver-se em amizades mais próximas e a expressar os seus sentimentos como nunca. São adeptos da mudança das regras da masculinidade; desabafam com outros em contextos seguros – embora nem todos os homens tenham esses espaços.
Criar mais dessas zonas seguras para homens jovens é fundamental, defende-se. Por exemplo, ao encorajar homens a fazer actividades lado a lado ou que tenham um propósito, as conversas importantes vão emergir de forma natural.
Apesar de haver preocupações sobre algumas actividades e fóruns que podem ser perigosos (por exemplo, por potencialmente aumentarem o risco de recruta para grupos misóginos), discussões online anónimas podem ajudar homens a conectarem-se e a expressarem-se sem temer julgamentos.
E com a ressalva de que o álcool tem os seus problemas óbvios, se os homens vão beber então fazê-lo com amigos pode não ser a pior forma de encorajar conexões emocionais.
Exclusivo PÚBLICO/The Conversation
Damien Ridge é professor de Estudos de Saúde na Universidade de Westminster;
Alex Broom é professor de Sociologia e director do Centro de Estudos de Sociedades Saudáveis da Universidade de Sydney.