O restaurante vegetariano mais a norte de Portugal
O chef suíço Jürg Baldesberger descobriu Rio de Onor há 24 anos — e um vegetariano já não tinha vida fácil em Portugal nessa altura. O Palheiro não tem carta e só abre ao fim-de-semana.
Não se falava de vegetarianismo no tempo em que pastores eram todos, em sistema rotativo, em que muitas tarefas, como a cozedura do pão, eram comunitárias e as decisões eram tomadas em praça pública. Quando há 24 anos chegou a Rio de Onor, esta aldeia no fim do mundo — ou no princípio do mundo —, Jürg Baldesberger ou comia uma omelete e uma salada mista ("e a salada mista era alface e tomate") ou comia em casa. "Não havia mais nada", desabafa o suíço, vegetariano há mais de trinta anos. "A terra tem tanta coisa, mas as pessoas não fazem, não ligam. Ainda bem que está a melhorar."
Fomos de carro, atravessando um planalto despido de sinais humanos, mas havemos de voltar a Rio de Onor seguindo os 48 quilómetros da Grande Rota dos Moinhos e dos Lameiros que segue por terras dos lameiros de montanha e de antigos moinhos ao longo das margens da ribeira de Aveleda e do rio Onor e que até cruza a fronteira.
Chega-se a Rio de Onor e dá-se de caras com o currículo de Jürg, pendurado à porta de sua casa a par do seu número de telefone. "Técnico de picharia, aquecimento central, restauração de casas antigas, madeiras, pinho tratado para estrutura de telhados." Algumas portas acima, sempre na Rua Central, encontramos o faz-tudo ao leme da cozinha do Palheiro, restaurante construído com as suas próprias mãos — assim como algumas das casas de granito com telhados de xisto — para a esposa, que faleceu antes de ver a sua obra-prima. "Não posso deixá-lo fechado", decidiu o suíço, avental posto e faca na mão.
A cozinha é a sala de visitas do Palheiro, um espaço confortavelmente pequeno (com duas mesas comunitárias, um simpático alpendre e, na cave com acesso directo ao rio, uma masseira que pode ser usada por mais um casal) de pé direito alto e tectos de madeira rasgados por janelas de luz.
"Não há carta. É o que há", sorri Gracinda Veiga, transmontana de Bagueixe que passou quase 15 anos na Alemanha antes de aqui assentar. "Temos dois ou três pratos por fim-de-semana". E o Palheiro só abre ao fim-de-semana — que ambos têm "outras vidas". A cozinha é deles. "Gostamos de cozinhar, mas não somos cozinheiros profissionais", avisam antes de nos servirem sopa de abóbora e gengibre, lentilhas estufadas e salada de batata e maçã com pesto caseiro.
Aqui e ali, dos dois lados do rio entre lojas, currais e carabelhos, despontam legumes nas hortas, então comunitárias. "As pessoas dão-nos salsa e compramos tudo o que há na aldeia, batatas, salada, abóboras..." De cabeça, Jürg conta 45 pessoas na parte portuguesa de Rio de Onor, uma aldeia, dois países, eleita em 2017 a 7 Maravilha de Portugal. "Não há juventude. Na parte espanhola há um casal mais novo com filhos. No lado de cá não há. Os últimos foram os meus."