Catarina Furtado distinguida pela ONU pelo seu trabalho de embaixadora da Boa Vontade

Nos últimos 23 anos, a portuguesa já visitou 14 países em missão para o Fundo das Nações Unidas para a População. Foi premiada, nesta quinta-feira, na reunião de Liderança Global no Cazaquistão.

Catarina Furtado
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Catarina Furtado é presidente da associação Coroações com Coroa Nuno Ferreira Santos/Arquivo
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A embaixadora da Boa Vontade na cerimónia desta quinta-feira DR
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A distinção foi feita na reunião de Liderança Global do UNFPA DR
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Catarina Furtado foi distinguida, nesta quinta-feira, pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) pelas “suas contribuições extraordinárias durante 23 anos de serviço enquanto embaixadora da Boa Vontade”, anuncia a ONU. Ao PÚBLICO, a portuguesa diz-se “comovida” e “orgulhosa” por ver que “o trabalho voluntário tem feito a diferença”. De resto, exorta, continua a haver muito que fazer.

Foi convidada em 2000 pelo ganês Kofi Annan e sempre reconduzida pelos líderes da ONU que se seguiram, incluindo António Guterres. Catarina Furtado é um dos rostos da agência das Nações Unidas destinada a proteger a saúde sexual e materna de meninas, raparigas e mulheres. “Ao longo de mais de duas décadas, a Catarina tem sido uma embaixadora incansável do UNFPA e uma defensora das mulheres e raparigas”, elogia a directora executiva Natalia Kanem, em comunicado.

“Agradecemos o seu entusiasmo, dedicação e compaixão, e o enorme impacto dos seus esforços nas pessoas que assistimos”, acrescenta, ainda, à margem da cerimónia de distinção que aconteceu, esta quinta-feira, em Almaty, no Cazaquistão.

Não deixa de ser simbólica a escolha da antiga capital daquele país para esta cerimónia, reconhece Catarina Furtado, que está a aproveitar a viagem para conhecer os desafios que meninas e mulheres enfrentam no Cazaquistão. “Desafios do casamento precoce, violência com base no género ou a tradição do rapto das noivas”, enumera.

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Esta atitude proactiva é o que tem distinguido o seu trabalho ao longo das últimas décadas e um dos motivos por que tem sido reconduzida pelos líderes da ONU, acredita. “Já nem consigo dissociar a minha condição de cidadã, mulher e mãe do papel de embaixadora”, celebra, garantindo que tem vontade de continuar por muito tempo. “Sou a única a ter este mandado tão longo”, assinala.

Há 23 anos, quando aceitou o convite, então por ser uma das apresentadoras de televisão mais conhecidas de Portugal, estava longe de imaginar o que encontraria pela frente, apesar de considerar que era alguém já muito consciente. “Não fazia ideia do quão determinante é a promoção da igualdade de género para a erradicação da pobreza.”

Missão em 14 países

Já esteve em missão em Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tome e Príncipe, Timor Leste, Haiti, Sudão do Sul, Líbano, Bangladesh, Egipto, Gana, Uganda, Índia e Indonésia. Em muitos desses países, levou consigo as câmaras da série documental Príncipes Do Nada, no ar há 17 anos na RTP, com objectivo de dar visibilidade ao impacto da acção do UNFPA.

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A série documental Príncipes do Nada estreou em 2005 PEDRO PINA / RTP

“Sou apenas uma gotinha”, lembra. Apesar de considerar que é apenas uma gota no oceano da acção da agência da ONU, recorda, com carinho, uma angariação de fundos que liderou, então no programa Operação Triunfo, para colocar painéis solares num centro de saúde da Guiné-Bissau, permitindo salvar a vida a mulheres e bebés, que morriam por não haver electricidade para ser feita uma cesariana. “A cada dois minutos morre uma mulher por causa da gravidez ou do parto”, lembra.

A saúde materna ou sexual, bem como o planeamento familiar, continuam a não estar no topo da agenda política, lamenta, justificando a importância do trabalho do UNFPA e dos seus embaixadores. “Mostro também as histórias felizes, a provar que, quando o investimento é certeiro, promovemos os direitos das meninas, raparigas e mulheres”, assevera.

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A missão de embaixadora engloba também a consciencialização junto dos líderes políticos, como o discurso que fez esta quinta-feira, durante a reunião de Liderança Global do UNFPA. “Parte do meu trabalho é ser uma advogada. Em todas as reuniões que tenho com decisores políticos e técnicos, dou o meu testemunho não técnico sobre o que se pode fazer”, relata. E lembra uma ocasião em que fez percorreu a distância a pé entre uma aldeia e o centro de saúde mais próximo com um ministro da saúde — a mesma que uma mulher grávida tinha de fazer.

Nos últimos 11 anos, o trabalho estendeu-se para a associação Coroações com Coroa, onde apoia meninas e mulheres de Portugal, onde a desigualdade de género é também uma realidade, reforça. Onde quer que vá, por cá ou em paragens longínquas, a língua nunca foi impedimento, porque “há empatia” para chegar à comunicação. Assim quer continuar a fazer, quem sabe mais 23 anos. “Infelizmente, é preciso continuar.”

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Catarina Furtado na Coroações com Coroa Nuno Ferreira Santos
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