A passadeira vermelha estendeu-se em Cannes para o regresso de Johnny Depp
O festival fez jus à sua reputação de glamour com um desfile de estrelas, incluindo Mads Mikkelsen, uma Helen Mirren de cabelo azul e Uma Thurman a passarem pela passadeira vermelha.
Johnny Depp parecia estar de volta ao seu modo de celebridade, na terça-feira, dando autógrafos e tirando fotografias com fãs antes da estreia do filme de abertura do Festival de Cannes, Jeanne du Barry, que marca o primeiro papel importante do actor desde o mediático julgamento por difamação que o opôs à ex-mulher Amber Heard.
Na cidade da Riviera Francesa, os fãs ergueram cartazes onde se lia “Parabéns, Johnny” e “Lamentamos” com um coração.
O festival fez jus à sua reputação de glamour com um desfile de estrelas, incluindo Mads Mikkelsen, uma Helen Mirren de cabelo azul e Uma Thurman a passarem pela passadeira vermelha.
Michael Douglas, acompanhado pela mulher, Catherine Zeta-Jones, e pela filha, não parou para dar autógrafos enquanto entrava no Grand Auditorium Louis Lumière, onde o actor de 78 anos recebeu a Palma de Ouro honorária. “Há centenas de festivais de cinema em todo o mundo, mas Cannes só há um”, disse Douglas à multidão. “E, de repente, [tem] 76 anos; sou ainda mais velho do que o festival”, gracejou.
Catherine Deneuve, 79 anos, ícone do cinema francês, que estampa o cartaz desta 76.ª edição do festival, foi também convidada a subir ao palco para falar aos convidados. Mas as atenções estavam voltadas para Johnny Depp.
Depp interpreta o papel do rei Luís XV em Jeanne du Barry, realizado e protagonizado pela actriz e cineasta francesa Maïwenn Le Besco, conhecida como Maïwenn, que interpreta a cortesã francesa Madame du Barry que subiu na escala social de Versalhes até se tornar a favorita do rei.
Os críticos destacaram o aspecto exuberante do filme, que recebeu financiamento da Red Sea Film Foundation da Arábia Saudita, com um orçamento total estimado em 22,4 milhões de dólares (20,68 milhões de euros), mas apontaram que lhe faltava pulso.
“A escolha de Johnny Depp para o papel de rei — alguns diriam que se trata de um duplo — oferece algumas emoções iniciais e depois, sobretudo, bocejos”, escreveu a Hollywood Reporter. O enviado do PÚBLICO a Cannes, Vasco Câmara, escreve: “Depp parece ter sido anulado. O seu Luís XV é de uma imensa sensaboria, menos personagem taciturna do que obstáculo mole, mesmo se é fluido no francês.”
O filme, que deverá chegar às salas portuguesas em Novembro, marca o início de um regresso do actor de Piratas das Caraíbas, que fez poucas aparições no cinema ou na televisão desde a conclusão do seu julgamento, em Junho de 2022.
Depp acusou a ex-mulher Amber Heard de difamação e obteve uma vitória quase total de um júri norte-americano, com os jurados a concederem-lhe mais de dez milhões de dólares de indemnização.
Menos de dois anos antes, Depp tinha perdido um processo por difamação na Grã-Bretanha contra o tablóide Sun, que o rotulou de “espancador da mulher”. Pouco depois, Depp foi retirado do franchise de filmes Monstros Fantásticos, um spinoff da saga Harry Potter.
Uma carta aberta assinada por mais de 100 actores, publicada na terça-feira no jornal francês Libération, critica o Festival de Cannes por “estender a passadeira vermelha aos homens e mulheres que agridem”, considerando que esta atitude enviava uma mensagem de que não havia consequências para tais acções, embora não tenha indicado nomes específicos.
Em jeito de resposta, o director do Festival de Cannes, Thierry Fremaux, disse na segunda-feira que desconhecia a imagem de Depp nos Estados Unidos e que, uma vez que não foi proibido de actuar, não havia razão para não incluir o filme.