Fundador do grupo Fortera e empresário já com caução entre detidos da Operação Babel
Metro do Porto também foi alvo de buscas no processo de corrupção que envolve o “vice” da Câmara de Gaia, um dos sete detidos no caso. Paulo Malafaia também tinha sido detido na Operação Vórtex.
O fundador do grupo israelita Fortera, Elad Dror, e o empresário do sector imobiliário Paulo Malafaia, que está sujeito a uma caução no âmbito da Operação Vórtex, estão entre os sete detidos esta terça-feira no âmbito da Operação Babel, um caso de corrupção centrado no sector do urbanismo.
O rol inclui ainda o vice-presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, um funcionário da Câmara do Porto que trabalha na área do urbanismo, um antigo colega deste que se encontra actualmente num julgado de paz, um advogado e um funcionário de Direcção Regional de Cultura do Norte, organismo que era chamado a dar parecer sobre alguns projectos urbanísticos que estão sob investigação.
A Polícia Judiciária desencadeou esta terça-feira uma grande operação que incluiu buscas nas câmaras de Gaia e do Porto, na empresa Metro do Porto e em várias empresas do grupo Fortera, entre outros locais.
O que liga as duas autarquias vizinhas neste caso são os empresários, que detinham negócios imobiliários nas duas cidades. Se num caso o suspeito de corrupção passiva é o vice-presidente gaiense, Patrocínio Azevedo, no outro são dois funcionários que trabalhavam no urbanismo, um que ainda está na câmara do Porto e outro que já saiu. O facto de a PJ ter apreendido o telemóvel do vereador do urbanismo, Pedro Baganha, e a um dirigente poderão fazer escalar as suspeitas, mas para já não existem indícios contra estes.
Enquanto uns inspectores estavam no Departamento de Urbanismo do Porto, outros deslocaram-se à Metro do Porto, onde recolheram informações sobre a nova Linha Rubi, cujo concurso internacional de construção foi lançado na semana passada. Irá ligar a Casa da Música a Santo Ovídio, em Gaia, passando pelo Campo Alegre. Financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência, o projecto implica um investimento de 435 milhões de euros e a construção de uma nova ponte sobre o Douro.
Paulo Malafaia tinha sido detido em Janeiro passado no âmbito do inquérito que envolveu o então presidente da Câmara de Espinho, Miguel Reis, que entretanto renunciou ao cargo. Miguel Reis ficou a aguardar o desenrolar do caso em prisão preventiva, enquanto a Malafaia foi aplicada uma caução de 60 mil euros, que pagou sem recorrer. Não é por coincidência que tal aconteceu. É que o Vórtex teve na sua origem uma certidão do caso que envolve o vice da câmara de Gaia.
Criada em 2015 para actuar no segmento imobiliário de luxo, a Fortera tem em curso vários projectos emblemáticos, como a construção de um hotel no Cais de Gaia, a escassos 50 metros da Ponte de D. Luís, que deverá terminar ainda este ano, ou a implantação da torre mais alta do país no futuro Centro de Congressos de Gaia, com 28 andares e cem metros de altura.
Situado na Rua do General Torres, nas traseiras da Câmara de Gaia, o edifício terá 160 quartos de hotel e 111 apartamentos com serviço, um terraço, uma piscina infinita, um clube de bem-estar, bar, dois restaurantes e vista panorâmica.
“Temos mais de 700 milhões de euros de projectos em curso para os próximos cinco anos”, refere a página oficial da Fortera na Internet. Entre eles estão centenas de apartamentos no Porto e também em Espinho, bem como a reabilitação do antigo Convento do Carmo, em Braga, igualmente para hotel.
Numa nota de imprensa divulgada esta terça-feira à tarde, o grupo imobiliário veio confirmar que Elad Dror se encontra nas instalações da Polícia Judiciária no Porto e que “irá colaborar com a justiça para o esclarecimento de qualquer facto que lhe possa ser imputado”, muito embora neste momento ainda não tenha conhecimento daquilo que está em causa neste inquérito. “A empresa tem em curso um investimento relevante na área de Gaia e poderá ser em torno do mesmo que será necessário prestar esclarecimentos”, acrescenta a Fortera, garantindo que irá “colaborar activamente com a investigação”.
Quando se fixou no Porto, em 2010, Elad Dror não abraçou logo o mundo do imobiliário de luxo, conta o Expresso num artigo publicado há perto de quatro anos. Constituiu a Beyond Fresh, empresa-mãe das lojas de acessórios e reparação de telemóveis Smart Talk e Dr. Smart. Foi quando a troika saiu de Portugal que começou a apostar forte na compra de terrenos e prédios antigos para reabilitar. Juntamente com Nir Shalom fundou o grupo imobiliário.
“Não venho para aqui para comprar e especular”, assegurava nessa entrevista. “Vivo aqui, passei pela crise como os portugueses e quase me sinto português. Estou aqui para construir casas e hotéis e para ficar a longo prazo”.
Na altura elogiava a postura da autarquia portuense: “Todos os prédios que comprámos estavam muito danificados e foram todos para demolir e fazer de novo. Tive tectos a cair em cima de mim. E a Câmara [do Porto] tem sido incrível e ajudou muito. Não tivemos problemas de licenciamento. É verdade que demora algum tempo, uns seis a nove meses até saírem as licenças, mas em Telavive demora dois anos”. com Margarida Gomes