Líder do CDS-PP traça fronteiras em relação a Iniciativa Liberal e Chega

Nuno Melo diz que IL está muito mais perto do BE do que outro partido.

Foto
Nuno Melo, líder do CDS-PP Rui Gaudencio

O presidente do CDS-PP traçou fronteiras em relação à Iniciativa Liberal e ao Chega e frisou que os democratas-cristãos mantêm relações com o PSD “em mais de 40 câmaras e nas regiões Autónomas da Madeira e dos Açores”. Na sessão de encerramento do XXV Congresso da Juventude Popular, que se realizou em Cascais, Nuno Melo fez uma referência implícita ao recente almoço entre os presidentes do PSD e da IL, Luís Montenegro e Rui Rocha.

“Não estou nada preocupado com almoços, porque nós almoçamos todos os dias com gente do PSD em mais de 40 câmaras, nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores e, eu pessoalmente, almoço muitas vezes com eurodeputados do PSD, com quem já fiz campanha ou de quem também já fui adversário”, afirmou Nuno Melo.

O tema tinha sido levantado pelo reeleito líder da JP, Francisco Camacho — dizendo registar com quem é que o PSD almoça —, e levou o presidente do CDS a deixar um conselho. “A política é muito mais que almoços, a política é trabalho, vamos fazer por merecer todos os almoços, todos os votos, não porque nos estendam a mão, mas pelo que valemos as urnas, não porque estamos frágeis mas porque trabalhamos”, afirmou.

Nuno Melo dedicou parte da sua intervenção, em que começou por atacar o Governo do PS, a traçar as diferenças que separam o CDS da IL e do Chega, num apelo aos eleitores que votaram nestes partidos para que possam voltar ao espaço da democracia-cristã.

Sobre a IL, o presidente do CDS frisou que não são um partido de direita, não são “um CDS moderninho”, e que, excepção feita à sua visão sobre o papel do Estado na economia, “está mais próxima do BE do que qualquer partido em Portugal”. Como exemplos, apontou a posição dos liberais na defesa da legalização da canábis, o “empenho na legalização da eutanásia” ou em matérias de “ideologia de género”

Já sobre o Chega, Nuno Melo disse até ter dificuldade em classificá-lo como um partido da direita conservadora. “A direita conservadora é institucional mesmo quando discorda, não pateia quando está na frente de chefes de Estado. A direita conservadora não cerca as sedes dos outros partidos”, disse, lembrando que o CDS-PP viveu uma situação de cerco num Congresso em 1975, no Palácio de Cristal (no Porto), e recusa posições extremistas.

O presidente do CDS-PP acusou ainda o líder do Chega, André Ventura (sem o mencionar), de contradições nas suas relações europeias: “Não atacamos Putin ao domingo e depois vamos de braço dado com Salvini à segunda-feira”, criticou.

Ainda em relação ao Chega, Nuno Melo chamou a atenção para o eleitorado católico que foi este partido que, recentemente, pediu uma audição parlamentar do cardeal patriarca de Lisboa sobre os abusos sexuais na Igreja, dizendo que “abriu a porta ao enxovalho parlamentar” de uma instituição, que – condenando quaisquer actos de pedofilia – também deve ser louvada por muitos outros aspectos da sua intervenção social. “Que falta faz o CDS na Assembleia da República”, concluiu, apelando ao regresso de que todos os que saíram ou deixaram de votar no partido.

Reconhecendo erros no passado, Nuno Melo garantiu que não irá perder “um segundo” a falar sobre questões internos, num Congresso a que chegou acompanhado pelo ex-presidente do CDS-PP Manuel Monteiro e por actuais e antigos dirigentes como João Almeida, Nuno Magalhães, Paulo Núncio, Pedro Morais Soares ou Isabel Galriça Neto.

Francisco Camacho, reeleito líder JP para novo mandato de dois anos, salientou a degradação da discussão parlamentar desde que o CDS-PP deixou de ter representação – nas legislativas de 2022 – e algumas críticas ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quer pela manutenção do Governo, quer por não ter feito “uso da sua consciência” e promulgado a despenalização da eutanásia.

Na mesma linha, também Nuno Melo disse ter concordado com o diagnóstico do Presidente da República no que classificou de “crise política muito grave”, relacionada com a manutenção do Governo do ministro das Infraestruturas, João Galamba. “A única coisa que falhou foi na conclusão, que só podia ser: e por isso dissolvo a Assembleia da República e convoco eleições antecipadas”, defendeu, assegurando que o CDS-PP estará preparado quer as legislativas se realizem “daqui a três meses ou três anos”.