“A Marinha não mente” sobre caso do navio Mondego, insiste Gouveia e Melo
Dentro de um mês serão conhecidas as conclusões do processo interno referente ao incidente que ocorreu com o navio Mondego.
O chefe do Estado-Maior da Armada admitiu esta quinta-feira que o caso do navio Mondego "fragilizou a imagem da Marinha", mas que a instituição "não mente" e dentro de um mês serão conhecidas as conclusões do processo interno.
"Naturalmente que este caso Mondego fragilizou a imagem da Marinha. No entanto, gostaria de referir que a Marinha é uma organização muito grande, não são 13 pessoas", afirmou o almirante Henrique Gouveia e Melo.
Em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação do programa comemorativo do Dia da Marinha, no Porto, o chefe do Estado-Maior da Armada disse não poder falar sobre os processos que decorrem, mas adiantou que dentro de sensivelmente "um mês" serão conhecidas as conclusões do processo interno.
"São processos que decorrem, e também para garantir toda a defesa possível aos envolvidos nesses processos, devem ser feitos com cuidado. Não é uma tentativa de celeridade que depois prejudica também a defesa das pessoas", acrescentou.
O chefe do Estado-Maior da Armada afirmou ainda que "a Marinha não mente", quando questionado sobre se tinham existido coincidências entre a denúncia feita pelos 13 militares e a missão que foi abortada pelo mesmo navio nas Ilhas Selvagens, na Madeira.
"A Marinha não mente, nós somos muita gente, mesmo que quiséssemos mentir, era impossível mentirmos. A Marinha tem muitas testemunhas, tem muitas pessoas a participar nos processos. Aquilo foi um incidente, que é um incidente de procedimentos, não esteve nenhuma avaria envolvida no incidente. Infelizmente foi uma coincidência e as coincidências más também acontecem", destacou, dizendo que se assim não fosse "sete mil pessoas que servem na marinha teriam que se combinar todas para fazer uma mentira".
O Mondego esteve no centro de várias polémicas desde o início de março, primeiro quando 13 militares se recusaram a embarcar para uma missão de acompanhamento de um navio russo ao largo da Madeira e depois, no final do mês, com uma avaria durante uma missão.
Gouveia e Melo afirmou que, neste momento, o principal desafio que a Marinha enfrenta é tornar-se "um catalisador da oportunidade que o mar é para Portugal", dizendo não ver a Marinha numa prespetiva "puramente militar", mas "mais alargada".
Questionado sobre o projeto de extensão da plataforma continental portuguesa, Gouveia e Melo disse estar "confiante" que Portugal vai estender a sua plataforma territorial, mesmo que não seja "na medida completa do pedido" feito às Nações Unidas.
"Seja qual for o resultado, será um resultado muito positivo para Portugal e será um resultado que dará uma oportunidade de recursos de potenciais futuros e o futuro não é só como o vemos hoje, terrestre, o futuro também é marítimo. Vão-se desenvolver atividades e uma economia toda com base no mar", acrescentou.
Gouveia e Melo destacou, no entanto, que este é um processo "muito lento" e que "demorará anos".
O projecto de extensão da plataforma continental portuguesa, coordenado desde 2005 pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), teve inicio junto das Nações Unidas em 2009. Com a extensão da plataforma continental, Portugal poderá passar a ter uma Zona Económica Exclusiva com cerca de quatro milhões de quilómetros quadrados, o correspondente a quase 90% do mar da União Europeia (UE).
"Nós não estamos ainda sequer a meio do processo", referiu, dizendo, no entanto, que o país tem de se preparar e não poderá "improvisar" quando essas áreas forem concedidas.
"Esses anos fazem com que tenhamos de pensar numa Marinha diferente da que temos hoje, uma Marinha completamente robustecida, mais técnologica e que não é virada so para os aspetos de guerra, mas para os aspetos complementares que tem a ver como um verdadeiro instrumento do estado nestas operações", acrescentou.
O alargamento proposto visa a garantia da soberania sobre os recursos naturais existentes no fundo do mar e no subsolo, para além das 200 milhas da Zona Económica Exclusiva portuguesa.
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